Dia do Nordestino - 08 de Novembro

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Seca no Nordeste - Leandro Gomes de Barros


BIOGRAFIA 


Leandro Gomes de Barros, paraibano nascido em 19/11/1865, 

na Fazenda da Melancia, no Município de Pombal, é considerado 
o rei dos poetas populares do seu tempo. Foi educado pela família 
do Padre Vicente Xavier de Farias, (1823-1907), proprietários da 
fazenda, e dos quais era sobrinho por parte de mãe. 
Em companhia da família "adotiva" mudou-se para a Vila do 
Teixeira, que se tornaria o berço da Literatura Popular nordestina, 
onde permaneceu até os 15 anos de idade tendo 

conhecido vários cantadores e poetas ilustres.


Do Teixeira vai para Pernambuco e fixa residência 

primeiramente em Jaboatão, onde morou até 1906, 
depois em Vitória de Santo Antão e a partir de 1907 no 
Recife onde viveu de aluguel em vários endereços, 
imprimindo a maior parte de sua obra poética no próprio 
prelo ou em diversas tipografias. Vale a pena transcrever o 
aviso no final de um poema, A Cura da Quebradeira

que demonstra suas constantes mudanças e o grande tino comercial:

"Leandro Gomes de Barros, avisa que está morando 

em Areias, Recife, e que remeterá pelo correio todos 
os folhetos de suas produções que lhe sejam pedidos”.



Sua atividade poética o obriga a viajar bastante 

por aqueles sertões para divulgar e vender seus 
poemas e tal fato é comentado por seus contemporâneos,
João Martins de Ataíde e Francisco das Chagas Baptista:
...

Cordel - Seca no Nordeste


Seca as terras as folhas caem, 

morre o gado sai o povo, 
O vento varre a campina, 
Rebenta a seca de novo; 
Cinco, seis mil emigrantes 
Flagelados retirantes 
vagam mendigando o pão , 
Acabam-se os animais 
ficando limpo os currais 
Onde houve a criação.
Caminhada da Seca - Senador Pompeu


Não se vê uma folha verde 
Em todo aquele sertão 
Não há um entre aqueles 
Que mostre satisfação 
Os touros que nas fazendas 
Entravam em lutas tremendas, 
Hoje nem vão mais o campo 
É um sítio de amarguras 
Nem mais nas noites escuras 
Lampeja um só pirilampo.

Vagalume - pirilampo - caga fogo


Foi a fome negra e crua 
Nódoa preta da história 
Que trouxe-lhe o ultimatum
Foi o decreto terrível 
Que a grande pena invisível 
Com energia e ciência 
Autorizou que a fome 
Mandasse riscar meu nome 
Do livro da existência.

Ultimatum: Últimas condições. Hora da decisão
Faca de dois gumes - gládio - punhal


E a fome obedecendo 
A sentença foi cumprida 
Descarregando lhe o gládio 
Tirou -lhe de um golpe a vida 
Não olhou o seu estado 
Deixando desamparado 
Ao pé de si um filhinho, 
Dizendo já existisses 
Porque da terra saísses 
Volta ao mesmo caminho.

Miséria no Brasil


Vê-se uma mãe cadavérica 
Que já não pode falar, 
Estreitando o filho ao peito 
Sem o poder consolar 
Lança-lhe um olhar materno 
Soluça implora ao Eterno 
Invoca da Virgem o nome 
Ela débil triste e louca 
Apenas beija-lhe a boca 
E ambos morrem de fome.

Pobreza Extrema no  Piauí


Vê-se moças elegantes 
Atravessarem as ruas 
Umas com roupas em tira 
Outras até quase nuas, 
Passam tristes, envergonhadas 
Da cruel fome, obrigadas 
Em procura de socorros 
Nas portas dos potentados 
Pedem chorando os criados 
O que sobrou dos cachorros.

Contraste social


O gado urra com fome, 
Berra o bezerro enjeitado 
Tomba o carneiro por terra 
Pela fome fulminado, 
O bode procura em vão 
Só acha pedras no chão 
Põe se depois a berrar, 
A cabra em lástima completa 
O cabrito ainda penetra 
Procurando o que mamar.



Animais em plena seca do Nordeste

Grandes cavalos de selas 
De muito grande valor 
Quando passam na fazenda 
Provocam pena ao senhor 
Como é diferente agora
Causava admiração, 
Era russo hoje está preto 
Parecendo um esqueleto 
Carcomido pelo chão.





Hoje nem os pássaros cantam 
Nas horas do arrebol 
O juriti não suspira 
Depois que se põe o sol 
Tudo ali hoje é tristeza 
A própria cobra se pesa 
De tantos que ali padecem 
Os camaradas antigos 
Passam pelos seus amigos 
Fingem que não os conhecem.

Santo Deus! Quantas misérias 
Contaminam nossa terra!
No Brasil ataca a sede 
Na Europa assola a guerra 
A Europa ainda diz 
O governo do país 
Trabalha para o nosso bem 
O nosso em vez de nos dar 
Manda logo nos tomar 
O pouco que ainda se tem

Vê-se nove ,dez, num grupo 
Fazendo súplicas ao Eterno 
Crianças pedindo a Deus Senhor! 
Mandai-nos inverno, 
Vem ,oh! Grande natureza 
Examinar a fraqueza 
Da frágil humanidade 
A natureza a sorrir 
Vê-la sem vida a cair 
Responde:o tempo é debalde.


Os habitantes procuram 
O Governo Federal 
Implorando que os socorra 
Naquele terrível mal 
A criança estira a mão 
Diz senhor tem compaixão 
E ele nem dar-lhe ouvido 
É tanto a sua fraqueza 
Que morrendo de surpresa 
Não pode dar um gemido.

Alguém no Rio de Janeiro 
Deu dinheiro e remeteu 
Porém não sei o que houve 
Que cá não parece 
O dinheiro é tão sabido 
Que quis ficar escondido 
Nos cofres dos potentados 
Ignora-se esse meio 
Eu penso que ele achou feio 
Os bolsos dos flagelados.

O Governo Federal
Querendo remia o Norte
Porém cresceu o imposto
Foi mesmo que dar-lhe a morte
Um meie o facão e rola-o
O Estado aqui esfola-o
Vai tudo dessa maneira
O municípios acha os troços
Ajunta o resto dos ossos
Manda vendê-los na feira.






"E assim vive a humanidade:
 Os ricos comem a carne de primeira 
e os pobres roem os ossos" 


    ...

Foi um dos poucos poetas populares a viver unicamente de suas histórias rimadas, que foram centenas. Leandro versejou sobre todos os temas, sempre com muito senso de humor. Começou a escrever seus folhetos em 1889, conforme ele mesmo conta nesta sextilha de A Mulher Roubada, publicada no Recife em 1907:


Caboclo entroncado, de bigode espesso, alegre, bom contador de anedotas: este é o retrato que dele faz Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores. Casou-se com Venustiniana Eulália de Barros antes de 1889 e teve quatro filhos: Rachel Aleixo de Barros Lima, Erodildes (Didi), Julieta e Esaú Eloy, que seguiu a carreira militar tendo participado da Coluna Prestes e da Revolução de 1924. De Leandro só possuímos fotos de meio-busto e uma de corpo inteiro, que colocava em seus folhetos para provar a autoria de seus 


versos; de sua família, o que ficou para a história foram os folhetos assinados com caligrafia caprichada, sobretudo os de Rachel.


Na crônica intitulada Leandro, O Poeta, publicada no Jornal do Brasil em 9 de setembro de 1976, Carlos Drummond de Andrade o chamou de "Príncipe dos Poetas" e assinala:

"Não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro". E diz mais: "Leandro foi o grande consolador e animador de seus compatrícios, aos quais servia sonho e sátira, passando em revista acontecimentos fabulosos e cenas do dia-a-dia, falando-lhes tanto do boi misterioso, filho da vaca feiticeira, que não era outro senão o demo, como do real e presente Antônio Silvino, êmulo de Lampião". 

Mas não foi só Drummond, nosso poeta maior, que reconheceria em Leandro a majestade dos versos. Em vida era tratado por seus colegas como o poeta do povo, o primeiro sem segundo (Athayde) e verdadeiro Catulo da Paixão cearense daqueles ásperos rincões (Gustavo Barroso).


Após o seu falecimento, em 4 de março de 1918, no Recife, o poeta e editor João Martins de Ataíde, em seu folheto A Pranteada Morte de Leandro Gomes de Barros, escreveu:


Poeta como Leandro
Inda o Brasil não criou
Por ser um dos escritores
Que mais livros registrou
Canções não se sabe quantas
Foram seiscentas e tanta
As obras que publicou.

Nenhum comentário: