Dia do Nordestino - 08 de Novembro

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Primeiro Poema - Compadre Lemos





O Primeiro Poema     
Compadre Lemos

Adão não foi um poeta.
Mas foi o primeiro homem
a receber um poema
- em forma de fruta –
da primeira mulher:

-- Recebe, meu homem,
a redonda maçã,
com a forma da Terra
que haveremos de conquistar!

Recebe, meu homem,
a maçã vermelha,
rubra, como a paixão
que haveremos de viver!

Recebe, meu homem,
a polpa suave e branca,
branca e suave, como a paz
que haveremos de buscar!

Recebe, meu homem,
o fruto saboroso,
como todos os mistérios
que haveremos de aprender!

Recebe, meu homem,
das mãos de tua mulher,
o fruto – pão – compartilhado,
como a Vida o quer!

E vieram, os dois,
para cumprir, no mundo,
mesmo sem ter consciência,
o que houvera determinado
a Divina Providência!

                            
Compadre Lemos

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nem sempre somos o que queremos ser






Nem sempre somos o que queremos ser
ou temos o que queremos ter


Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos
As vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração
A vida imita um vídeo
Garotos inventam
Um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez....
Somos quem podemos ser....
Sonhos que podemos ter....
(Engenheiros do Hawaii)

A embira – Maria da Paz



A embira – Maria da Paz
Agosto de 2010


Eu sou filho da embira de amarrar saco
Sou prima da corda, que por sinal é filha de Seu Agave
Já amarrei muitas bocas, já viajei pra cidade
Servi de cinturão nas calças do meu patrão
Já fui usada para amarrar burro brabo
Já fui cadeado de porteira
Fui parar no pescoço de Jovita
A cadela de estimação do menino João
Sou vegetal forte brotada do chão
Não tenho muito pretensão
Posso até virar peça de arte
Mas, meu desejo mesmo é me acabar no sertão
Ser enterrado num monturo
Bem perto da latadinha onde se sente
O cheiro do café sendo torrado
Onde as meninas de tarde sentam-se lá no batente
Falando dos namorados
Esperando pelo pai que vai chegar do roçado
Meu nome é Ouro branco, a fibra do Sisal
Nascida lá no sertão

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Escolta de vagalumes - Luiz Carlos Garcia / Zezety

ESCOLTA DE VAGALUMES






Luiz Carlos Garcia / Zezety
Voltando pra minha terra eu renasci.
Nos anos que fiquei distante acho que morri.
Morri de saudade dos pais irmãos e companheiros.
Ao cair da tarde no velho terreiro,
Agente cantava as mais lindas canções.

Viola afinada e na voz dueto perfeito.
Longe eu não cantava doía meu peito.
Na cidade grande só tive ilusões.

Mas voltei, mas voltei, eu voltei.
E ao passar na porteira a mata, o perfume.
Eu fui escoltado pelos vagalumes,
pois era uma linda noite de luar.

Mas chorei, mas chorei, eu chorei.
Ao ver meus pais, meus irmãos vindo ao meu encontro.
A felicidade misturou meu pranto.
Com o orvalho da noite deste meu lugar.

Ganhei dinheiro lá fora mas foi tudo em vão.
A natureza é meu mundo, eu sou o sertão.
Correr pelos campos floridos feito um menino.
Esquecer as mágoas e os desatinos.
Que a vida lá fora me proporcionou.

Ouvir sabiá cantando e a juriti
E a felicidade de um bem-ti-vi
Que parece dizer meu amigo voltou
Mas voltei, mas voltei, eu voltei
E ao passar na porteira a mata o perfume
Eu fui escoltado pelos vagalumes
Pois era uma linda noite de luar

Mas chorei, mas chorei, eu chorei
Ao ver meus pais meus irmãos vindo ao meu encontro
A felicidade misturou meu pranto
Com o orvalho da noite deste meu lugar

Belissima na voz de Sergio Reis

Discurso de cabra macho

Num  sei se tu mintende
O que eu quero lhe dizer
Das bandas  dadonde venho
Sinoimo de vida é sofrer
Tem dias que muita gente
Não tem nada pra comer

Nascido no mei da roça
puxando cobra prus pés
no dia que tô danada
É aquele revestréz
Murro em ponta de faca
Eu num valo um derrez

Mas também tenho bondade
Sô omi trabaidor
Num vivo de vaidade
Só dou nas taba dos queixo
De quem me farta a verdade
In nesse eu dou de feixo.

Sou crente no Meu sinhô
Rezo pra vige Maria
No dia qui tô contente
Saio puraí dando boidia
Jogano cunversa fora
e mostrando meu repente.

N...


...
Em construção

domingo, 31 de outubro de 2010

Viva a Cultura Popular e seus heróis : Da Paz




                                                                                                                                                                 






Por onde ando, tenho encontrado ou ouvido falar de pessoas, personagens que insistem em manter a Cultura Popular viva. Mané Beradero, Mestre Paulo Varela, Hailton Mangabeira (meu ex-aluno), José Acaci (grande amigo de infância), Kidelmir Dantas (grande amigo e conterrâneo da bela Paraíba), ele de Nova Floresta e eu da visinha Picuí, no cenário musical temos Carlinhos Zens e um apanhado e por que não dizer um punhado de
verdadeiros heróis da resistência, onde o cordel perdeu a xilografura para a impressão colorida e a imbira de agave substituída pelas prateleiras, os pífanos e flautas na maioria das vezes foram substituídas pelos saxofones e clarinetes (que por sinal gosto demais), a poesia matuta, rimada, de causos e que muitas vezes faziam o papel do Jornal noticiário mesmo, pois levavam a informação de acontecimentos distantes, como por exemplo: "A morte de uma adolescente por um vizinho malvado". Tenho profunda admiração por Jessier Quirino. Suas poesias são retratos fiéis do cenário rural nordestino e como ele mesmo diz" cagado e cuspido". Ele é o que o matuto chama de Dotôr, estudado dos bancos de Universidade, morador de área urbana e nobre de Campina Grande, conhecedor dos palavrórios dos mais diversos dicionários. Mas, se apropriou da fala "falada" do cabôclo da roça ( o que faz com destreza e respeito). Assim, também faz Onildo Barbosa, um natubense intimamente ligado com o ar rural do sertanejo nordestino e com letras faz um retrato, digo, uma fotografia de cenários perfeitos da Cultura popular regional. E assim fez o  mestre maior Patativa do Assaré. E entre casas caiadas e salas de reboco, nos milharais, entre quengos e panelas de barro, nos munturos da fazendas, nos oitões das casas grandes, nas rodadas de anedotas e Trancoso, nas budegas das cidades, a qualquer hora do dia ou da noite, esses homens e tantos outros não citados vão juntando os pedaços da nossa cultura como se fozem retalhos e nós, os aprendizes de poetas vamos montando uma colcha para agasalhar nossos sentimentos, saudosismo ou coisa assim. Quero agradecer a Deus por essas pessoas existirem no nosso cotidiano de leitores apreciadores de todo e qualquer forma de manifestação cultural e cada um deles pela dedicação e pela coragem de carregarem a Bandeira do Nordeste.

O Plantador de Milho

Sou eu caboclo da roça
Criado dentro da mata
Nunca calcei um sapato
Nunca usei uma gravata
Moro perto da cidade
Mas pra falar a verdade
Só vou lá de feira em feira
Ou quando há precisão
De batizar um pagão
Ou buscar uma parteira

No dia que registrei
O meu filhinho mais novo
O juiz estava nervoso
Brigando no meio do povo
Me chamou de maltrapilho
Sujo, plantador de milho
E disse mais uma piada
Dessas que a boca não cabe:
Matuto pobre só sabe
Fazer menino e mais nada.

O juiz não tinha filhos
Que enfeitassem sua vida
Eu conhecia a história
E fui direto na "ferida":
O senhor está zangado,
Tem dez anos de casado
E a mulher não tem um filho;
A sua comida fina
Não contém a vitamina
Que há na massa do milho.

A minha família é grande
Dez filhos e a mulher.
Sua família é pequena
Mas é porque você quer.
A sua mulher lhe embroma
Quase todo dia toma
Anticoncepcional
Lhe vicia em novela
Dorme tarde e faz tabela
E esquece do "principal".

Ouvi o senhor dizer
Que está gastando por mês
Mas de dez salários mínimos
Só com perfume francês
Diz que a vida é uma bomba
Que foi não foi leva tromba
Com mercadoria falsa
Comprar perfume estrangeiro
É pra quem possui dinheiro
Nos quatro bolsos da calça

Caro doutor, lá em casa
Ninguém nem conversa em luxo
A fora uma simples roupa,
O resto é encher o bucho
Não acostumei meu povo
Exigir sapato novo
Para as festas de São João
Ao invés de um colar de ouro
Compro a rabada de um touro
Pra se comer um pirão.

Lá ninguém fala em perfume,
O que há na minha casa
É cheiro de carne assada
Pingando em cima da brasa
Minha cabocla Maria,
Gorda, disposta e sadia,
Pra toda vez que eu quiser
Botar fogo na geléia
Para isso a minha "véia"
É mulher, sendo mulher.

Como!, é galinha caipira
E não galeto de granja
Ao invés de coca-cola
Tomo suco de laranja
Com rapadura de mel.
E escute aqui, bacharel,
Conversa longa me atrasa.
Quer ver a mulher Ter filho?
Bote um plantador de milho
Pra dormir na sua casa.

Autor: Daudeth Bandeira


                                                                                                                                                               

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Miguel Nicolelis -



Setembro 2010
Miguel Nicolelis recebe outro prêmio científico dos Institutos Nacionais de Saúde dos E.U.A.

Dois meses depois de ter recebido dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos US$2,5 milhões para investir em suas pesquisas no campo da interface cérebro-máquina, Miguel Nicolelis volta a ser distinguido com um prêmio de aproximadamente US$4 milhões da mesma instituição. Os recursos devem ser aplicados no desenvolvimento da nova terapia para o mal de Parkinson que vem mobilizando o pesquisador há alguns anos e que, na avaliação dos NIH, se constitui numa pesquisa “arrojada, criativa e de alto impacto”. Miguel Nicolelis é a primeira pessoa a receber da instituição americana no mesmo ano o Director’s Pioneer Award e o Director’s Transformative R01 Award.



Agosto 2010
Assinado acordo de colaboração científica suíço-brasileira


No dia 30 de agosto, o Presidente da AASDAP, Miguel Nicolelis; o Ministro da Educação, Fernando Haddad; o Conselheiro Federal do governo Suíço, Didier Burkhalter e o Presidente da Escola Politécnica Federal de Lausanne, Patrick Aebischer assinaram acordo de colaboração científica suíço-brasileira, que visa o desenvolvimento de novos estudos sobre doenças neurodegenerativas e envolve a instalação do supercomputador Blue Gene/L no Campus do Cérebro, em Macaíba-RN.



Julho 2010
Miguel Nicolelis recebe o mais prestigioso prêmio científico dos Institutos Nacionais de Saúde dos E.U.A.

Miguel Nicolelis é o primeiro cientista brasileiro a receber o Prêmio Pioneiro (Pioneer Award), oferecido pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH). Instituído em 2004, este é o mais prestigiado prêmio científico dado pelo Governo americano por intermédio do Instituto Nacional de Saúde a pesquisadores biomédicos, como reconhecimento por suas abordagens inovadoras. O presidente da AASDAP integra agora o grupo de 81 cientistas que receberam a honraria desde então.
Nicolelis planeja usar o prêmio de US $ 2,5 milhões para continuar expandindo suas pesquisas no desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina.



Inauguração do Instituto Nacional de Interface Cérebro-Maquina (INCeMaq)


Na manhã de 02 de julho, aconteceu a inauguração do Instituto Nacional de Interface Cérebro-Maquina (INCeMaq), no Centro de Pesquisa de Macaíba. O INCeMaq é um projeto aprovado no âmbito do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia - Programa INCT, criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e tem como sede o IINN-ELS. A solenidade contou com a presença do Reitor da Universidade Federal do RN, José Ivonildo do Rego; da Pró-Reitora de Pesquisa da UFRN Maria Bernadete Cordeiro de Sousa; de Claudia Tavares Machado Cunha, Diretora de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte – FAPERN; e dos membros do comitê gestor do projeto: Miguel Nicolelis, do IINN-ELS; Sidarta Ribeiro e Dráulio Barros de Araujo (IINN-ELS e UFRN); Allan Kardec Barros Filho (UFMA); Mauro Copelli Lopes da Silva (UFPE); Claudia Domingues Vargas (UFRJ), Márcio Flávio Dutra Moraes (UFMG), Antonio Carlos Roque da Silva Filho (USP-RP) e Reynaldo Daniel Pinto (IFSC-USP).



Junho 2010
Miguel Nicolelis eleito membro da Academia Francesa de Ciências

Miguel Nicolelis recebe medalha de Guy Laval

O presidente da AASDAP, Miguel Nicolelis, tornou-se um dos quatro cientistas brasileiros eleitos para a Academia Francesa de Ciências. Criada em 1666, a Academia Francesa de Ciências é uma das cinco academias do Institut de France e tem, dentre seus membros, os mais importantes cientistas e pesquisadores do mundo, eleitos por grupos acadêmicos. A cerimônia de apresentação dos 18 novos membros estrangeiros teve lugar no Instituto da França, em 15 de junho de 2010.
Leia o discurso de posse



Inauguração do Centro de Educação Científica de Serrinha, BA

Miguel Nicolelis, presidente da AASDAP e o governador da Bahia, Jaques Wagner, durante a inauguração

No dia 21 de junho foi inaugurado o Centro de Educação Científica de Serrinha, BA, a 173 quilômetros de Salvador. Com capacidade para 400 alunos, o Centro de Serrinha foi criado nos moldes do Centro de Educação Científica do RN, visando promover a inclusão social de jovens da rede de ensino público do semi-árido baiano com o ensino complementar na área de ciência e tecnologia. O Governo do Estado da Bahia destinou os recursos para a implantação integral do projeto e a Secretaria Estadual de Educação cedeu o prédio que o abriga.




Presidente da AASDAP é agraciado com a Ordem do Rio Branco

Em 20 de abril, o Governo Brasileiro concedeu a Miguel Nicolelis a Ordem do Rio Branco, em reconhecimento às iniciativas para o desenvolvimento socioeconômico, crescimento sustentável e transformação social do país.



I Mostra de Trabalho 2010 da Escola Alfredo J. Monteverde







sexta-feira, 24 de setembro de 2010

OS SETE CONSTITUINTES - Antônio Francisco teixeira de melo(poeta)





Os sete constituintes
Antônio Francisco teixeira de melo(poeta)

OS SETE CONSTITUINTES
 

Quem já passou no sertão
E viu o solo rachado,
A caatinga cor de cinza,
Duvido não ter parado
Pra ficar olhando o verde
Do juazeiro copado.

E sair dali pensando:
Como pode a natureza
Num clima tão quente e seco,
Numa terra indefesa
Com tanta adversidade
Criar tamanha beleza.


O juazeiro, seu moço,
É pra nós a resistência,
A força, a garra e a saga,
O grito de independência
Do sertanejo que luta
Na frente da emergência.

Nos seus galhos se agasalham
Do periquito ao cancão.
É hotel do retirante
Que anda de pé no chão,
O general da caatinga
E o vigia do sertão.


E foi debaixo de um deles
Que eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.

Isso já faz tanto tempo
Que eu nem me lembro mais
Se foi pra lá de Fortim,
Se foi pra cá de Cristais,
Eu só me lembro direito
Do que disse os animais.

Eu vinha de Canindé
Com sono e muito cansado,
Quando vi perto da estrada
Um juazeiro copado.
Subi, armei minha rede
E fiquei ali deitado.

Como a noite estava linda,
Procurei ver o cruzeiro,
Mas, cansado como estava,
Peguei no sono ligeiro.
Só acordei com uns gritos
Debaixo do juazeiro.


Quando eu olhei para baixo
Eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.

O porco dizia assim:
– “Pelas barbas do capeta!
Se nós ficarmos parados
A coisa vai ficar preta…
Do jeito que o homem vai,
Vai acabar o planeta.

Já sujaram os sete mares
Do Atlântico ao mar Egeu,
As florestas estão capengas,
Os rios da cor de breu
E ainda por cima dizem
Que o seboso sou eu.


Os bichos bateram palmas,
O porco deu com a mão,
O rato se levantou
E disse: – “Prestem atenção,
Eu também já não suporto
Ser chamado de ladrão.

O homem, sim, mente e rouba,
Vende a honra, compra o nome.
Nós só pegamos a sobra
Daquilo que ele come
E somente o necessário
Pra saciar nossa fome.”


Palmas, gritos e assovios
Ecoaram na floresta,
A vaca se levantou
E disse franzindo a testa:
– “Eu convivo com o homem,
Mas sei que ele não presta.

É um mal-agradecido,
Orgulhoso, inconsciente.
É doido e se faz de cego,
Não sente o que a gente sente,
E quando nasce e tomando
A pulso o leite da gente.

Entre aplausos e gritos,
A cobra se levantou,
Ficou na ponta do rabo
E disse: – “Também eu sou
Perseguida pelo homem
Pra todo canto que vou.


Pra vocês o homem é ruim,
Mas pra nós ele é cruel.
Mata a cobra, tira o couro,
Come a carne, estoura o fel,
Descarrega todo o ódio
Em cima da cascavel.

É certo, eu tenho veneno,
Mas nunca fiz um canhão.
E entre mim e o homem,
Há uma contradição
O meu veneno é na presa,
O dele no coração.

Entre os venenos do homem,
O meu se perde na sobra…
Numa guerra o homem mata
Centenas numa manobra,
Inda tem cego que diz:
Eu tenho medo de cobra.”


A cobra inda quis falar,
Mas, de repente, um esturro.
É que o rato, pulando,
Pisou no rabo do burro
E o burro partiu pra cima
Do rato pra dar-lhe um murro.

Mas, o morcego notando
Que ia acabar a paz,
Pulou na frente do burro
E disse: – “Calma, rapaz!…
Baixe a guarda, abra o casco,
Não faça o que o homem faz.”

O burro pediu desculpas
E disse: – “Muito obrigado,
Me perdoe se fui grosseiro,
É que eu ando estressado
De tanto apanhar do homem
Sem nunca ter revidado.”

O rato disse: – “Seu burro,
Você sofre porque quer.
Tem força por quatro homens,
Da carroça é o chofer…
Sabe dar coice e morder,
Só apanha se quiser.”


O burro disse: – “Eu sei
Que sou melhor do que ele.
Mas se eu morder o homem
Ou se eu der um coice nele
É mesmo que estar trocando
O meu juízo no dele.

Os bichos todos gritaram:
– “Burro, burro… muito bem!”
O burro disse: – “Obrigado,
Mas aqui ainda tem
O cachorro e o morcego
Que querem falar também.”

O cachorro disse: – “Amigos,
Todos vocês têm razão…
O homem é um quase nada
Rodando na contramão,
Um quebra-cabeça humano
Sem prumo e sem direção.


Eu nunca vou entender
Por que o homem é assim:
Se odeiam, fazem guerra
E tudo o quanto é ruim
E a vacina da raiva
Em vez deles, dão em mim.”

Os bichos bateram palmas
E gritaram: – “Vá em frente.”
Mas o cachorro parou,
Disse: – “Obrigado, gente,
Mas falta ainda o morcego
Dizer o que ele sente.”

O morcego abriu as asas,
Deu uma grande risada
E disse: – “Eu sou o único
Que não posso dizer nada
Porque o homem pra nós
Tem sido até camarada.


Constrói castelos enormes
Com torre, sino e altar,
Põe cerâmica e azulejos
E dão pra gente morar
E deixam milhares deles
Nas ruas, sem ter um lar.”

O morcego bateu asas,
Se perdeu na escuridão,
O rato pediu a vez,
Mas não ouvi nada, não.
Peguei no sono e perdi
O fim da reunião.

Quando o dia amanheceu,
Eu desci do meu poleiro.
Procurei os animais,
Não vi mais nem o roteiro,
Vi somente umas pegadas
Debaixo do juazeiro.

Eu disse olhando as pegadas:
Se essa reunião
Tivesse sido por nós,
Estava coberto o chão
De piubas de cigarros,
Guardanapo e papelão.

Botei a maca nas costas
E saí cortando o vento.


Tirei a viagem toda
Sem tirar do pensamento
Os sete bichos zombando
Do nosso comportamento.

Hoje, quando vejo na rua
Um rato morto no chão,
Um burro mulo piado,
Um homem com um facão
Agredindo a natureza,
Eu tenho plena certeza:
Os bichos tinham razão.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Morte do Vaqueiro - Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho



A Morte do Vaqueiro
Luíz Gonzaga
Composição: Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho

Numa tarde bem tristonha
Gado muge sem parar
Lamentando seu vaqueiro
Que não vem mais aboiar
Não vem mais aboiar
Tão dolente a cantar
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Ei, gado, oi
Bom vaqueiro nordestino
Morre sem deixar tostão
O seu nome é esquecido
Nas quebradas do sertão
Nunca mais ouvirão
Seu cantar, meu irmão
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Ei, gado, oi
Sacudido numa cova
Desprezado do Senhor
Só lembrado do cachorro
Que inda chora
Sua dor
É demais tanta dor
A chorar com amor
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Ei, gado, oi
E... Ei...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Virgulino Lampião - Deputado Federá :Jessier Quirino

Virgulino Lampião, Deputado Federá
Jessier Quirino
Composição: Jessier Quirino

Seus Dotôres Deputado
falo sem tutubiá
pra mostrá que nós matuto
sabe se pronunciá
dizê que ta um presídio
com dó e matuticídio
a vida nesse lugá

O Brasí surgiu de nós
nós tudo que vem da massa
deram um nó no mêi de nós
que nós desse nó não passa
e de quatro em quatro ano
vem vocês com o veio plano
desata o nó e se abraça

Tamo chêi dessa bostice
de promessa e eleição
dos que vem de vem em quanto
se rindo, estendeno a mão
candidato a caloteiro
aprendiz de trapaceiro
corruto, falso e ladrão.

A coisa ta enveigada
ta ruim de devenveigá
meu sistema neuvosíssimo
vejo a hora se estorá
se estóra eu não engano
cuma diz o americano
na matança eu tem norrá.

Quero que vocês refrita
o falá da minha fala
pelo cano do revóve
magine o tamãe da bala.

Vocês que véve arrimado
nas bengala do podê
dou um chuto na bengala
mode alejado corrê
dou dedo, faço munganga
canto Ouvira do Ypiranga
e mando tudo se fudê.

Acunho logo a tramela
nas porta da corrução
toco fogo na lixeira
e passo de mão em mão
corto língua de quem mente
quebro três ou quatro dente
dos Deputado risão.

Político que come uva
em plena safra de manga
vai pra lei dos desperdiço
nas faca dos meus capanga.

Se eu der um tiro no mato
e bater num marinheiro
é porque tem mais honesto
do que cabra trambiqueiro
diante dessa nutiça
não haverá injustiça
é a lei dos cangaceiro.

Os deputado bom de pêia
eu tiro o “W” do nome
tiro vírgula dos discurso
reticença e pisilone
sapeco lei pra matuto
meto bala nesses puto
e um viva no microfone.

Matuto que tem saúde
pro trabaio ele é capaz
nós se vira, arruma água
as sementes e o preço em paz
não vai sê protecionismo
é a lei do Nordestinismo
dos Problemas Matutais.

Debuiado este discurso
pros Dotôre e Deputado
ta dizido minha meta
pra cem bilhão de roçado
depois não venham dizê
que foi golpe de pudê
proque não foram avisado

Partido dos Cangaceiro
o PC dos natura
pela lei da ignorança
do Congresso Federá
assinado Capitão
Virgulino Lampião
Deputado Federá.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Velha casa de farinha - Maria da Paz

Velha casa de farinha
Em noites de lua cheia
O branco da mandioca
Nem de longe lembra nuvens
E o brilho da faca
A lhe tirar das entranhas
O que era tuas vestes
Agora é manipueira
Em algum canto secando
E o cheiro típico tão teu
Tão pouco lembra vinho
Este humilde cenário
Nem de longe lembra tristeza
Pobreza ou coisa assim
Velhos, mulheres, meninos
É festa pra todo mundo
A maior felicidade
Comer um pedaço de bejur
Com um café bem quentinho
Que saudade do Velho Mané Varela
E sua casa de farinha

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um pouco de trovas

Se meu verso fosse arma
guerreando dia a dia.
O estopim era a palavra
Explodindo em Poesia...


Jornal "O trovador"

Não sei se por falsidade,
Vaidade ou coisa assim,
Minha ex-cara-metade
Levou metade de mim.
(Zé de Souza)


Quem se entrega à solidão
e dela se faz refém,
anda em meio a multidão
mas não enxerga ninguém
(Ademar Macedo)

Dois ladões num intervalo
Foram juntos almoçar
Um deles pediu...roubá-lo
E o outro

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Comprando consciência - José Acaci

COMPRANDO CONCIÊNÇA
José Acaci

Um político tarimbado,
raposa véia de ação,
ganhador de eleição,
um enganador safado,
desses que fala incangado...
entrou no bar da pracinha
de numa cidadezinha
e gritou:-quem quer cachaça?
quem quiser bebe de graça,
hoje a conta vai ser minha!

Passou a tarde todinha
pagando cana e falando
e 'os bebo' se embriagando
e bebendo tudo que vinha.
e ele dizendo que tinha
dinheiro pra se manter
influencia nos puder,
e outras qualidades dele,
e que quem votasse nele
não ia se arrepender.

Prometeu pra Zé Jumento
Um milheiro de tijolo,
E pra Manezin do Bolo
Quatro saca de cimento.
Prometeu comprar um cento
De ripa pra Zé Migué,
Um sacolão pra Mané,
Remédio pra Zé de Bana,
E tome promessa e cana,
Risada, fuzaca e mé.

No “mei” da farra e da loa
Um menino entrou no bar
Começou a espiar
E viu aquela pessoa
Que tomou uma das boa
E tava estendido no chão
Perto do pé do balcão.
Esse bebo esparramado
Era o pai desse coitado
Que ninguém deu atenção.

Nem viram o menino entrar,
E quando ele foi entrando
Ficou num canto esperando
Pra ver o pai acordar
E ele ficou a escutar
As conversa do doutor
Que naquele seu furor
Nem via as águas caindo
Dos zói daquele menino
Que chorava de amor.

Nesse instante, do outro lado
Ouviu-se de lá da esquina
Um apito da buzina
De um motão avermeiado.
Um amigo do deputado
Passando pela tangencia
Pra marcar sua presença
Gritou sem descer da moto:
-Tu ta aí comprando voto,
Ou pagando pinitencia

Foi um momento bonito
Quando o povo calou-se
E o menino levantou-se
E respondeu com um grito
Mas forte do que o apito.
Do fundo da inocência.
Delatou a intransigência
Quando olhou pro pai no chão
E disse de supetão!
TA COMPRANDO CONSCIÊNÇA.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Esse mundo tá louco - Carlinhos Veiga



Esse mundo tá louco
Carlinhos Veiga
Composição: Carlinhos Veiga

Marimbondo é preto, abelha amarela
Rico anda de carro, pobre de chinela
Se o bicho ferroa, funciona a goela
Pobre sonha o céu, rico ama a terra

Nas contas que fiz
Não sobrou nem um troco
Ou eu sou ruim de conta
Ou esse mundo tá louco

Não existe uma dor igual dor de dente
É aguda, é fina, incomoda a gente
Tem muito artista que passou pra crente
Pra dar testemunho a oferta é indecente

Nas contas que fiz
Não sobrou nem um troco
Ou eu sou ruim de conta
Ou esse mundo tá louco

Os políticos de hoje crêem no ideal
Da globalização, de fazer tudo igual
A praga se espalha pelo capinzal
O império se alastra engolindo o local

Nas contas que fiz
Não sobrou nem um troco
Ou eu sou ruim de conta
Ou esse mundo tá louco

Quase tudo hoje em dia não é natural
Ninguém mais é o mesmo, tá articificial
Mudar a cor do cabelo e do olho é normal
Põe até silicone pra erguer o peitoral

Nas contas que fiz
Não sobrou nem um troco
Ou eu sou ruim de conta
Ou esse mundo tá louco
Aprendi um ditado que vem do sertão
Só carro de boi, que geme, é dos bão
Crente que afasta se vem provação
Num apruma, num vinga, num cresce mais não

Nas contas que fiz
Não sobrou nem um troco
Ou eu sou ruim de conta
Ou esse mundo tá louco

Eu conheço gente que despreza a viola
Prefere outros ritmos ao invés de uma moda
Mas quando a bichinha balança as dez cordas
O peito num güenta os meninos aboba

Nas contas que fiz
Não sobrou nem um troco
Ou eu sou ruim de conta
Ou esse mundo tá louco.

Matuto apaxonado - Maria da Paz / Agosto 2010

Sou poeta, sou autor
de uns versos malacabados
Nunquinha sube iscrever
meu amor bem decrarado

Se oçê subesse u qui ieu sinto
mi oiava com cuidado
Pru mode ieu num sofrer
de amor disinganado

Sonhei a noite todinha
qui sou o seu namorado
Ô morena tenha pena
desse matuto infadado

Mi ame mi quera bem
prometo oiá pra ninguém
Eu juro peranta Deus
Te agassaiar nos braços meus

Isso é verdade ti digo
Vou fazer uma casinha
Lá perto do pé de figo
Adonde eu e tu se aninha

Vou comprar uns carneiros
Um bucado de galinha
Vixi cuma vai ser ligeiro
proliar essa casinha

ô muié discunfiada
Sô teu e de mais ninguém
Um matuto apaxonado
Premete inté o qui num tem

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CARTA MATUTA DE UM POETA SERTANEJO

CARTA MATUTA DE UM POETA SERTANEJO

Autor e Remetente: Dé Pajeú.
Endereço: Cafundós do Sertão Pernambucano.

Destino: Cacá Lopes
Lajeado -Periferia – Zona Leste de São Paulo.

Meu cumpade Cacá Lope
Um forte aperto de mão,
Receba o meu abraço
De alma, de coração,
Desse amigo cantadô
São versos de gratidão.

É uma carta matuta
Um “disabafo” rimado,
Das “coisa” qui só acontece
No Sertão “ixturricado”
Pra você qui tá ozente
Num ficá “dizinformado”.

Cacá, aqui nessas “banda”
A situação tá é pió,
Eu já tô é avexado
Miséra é di fazê dó,
Pra isquecê a lamúria
Só caindo num forró.

Aqui no nosso Sertão
Tá tudo é “dirmantelado”
Com o vírus da evolução
O povão ta “imbriagado”,
Ninguém “trabaia” “marnão”
É um funaré lascado.

Nos cafundó do Nordeste
É grande a “isculhambação”,
Tem um labaçé de “mota”
De D-vinte e caminhão,
O jogo di curingado:
Cana e “proxtituição”.

Tem “caba” qui baba o quêxo
Com arnêga a requebrá
“Bebo” “fazeno” munganga
Pus povo bom “ispiá”,
E o futuro das “criança”
Ninguém sabe aonde tá.

Minina “cunspeito” inxado,
Siparésse dois mamão.
Dá pena vê êsses pôvo,
Sem futuro no Sertão,
É um “fuá”” mizerável”
E um mundo di perdição.

Muié novinha “parino”
Somente pra recebê
O dinhêro do guvêrno,
Qui a criança nunca vê
Pruquê ela compra cum ele
Parabólica e Vevedê.

Toma “ceuveja” gelada
Curte som e fica a olhá,
Uzómi tomano pinga
E a “fiarada” a “isperá”
In casa, cum buxo seco
Sem tê o que alimentá.

Amigo! A “corra” tá feia
O Sertão tá ôto mundo,
Nas “calçada”, nus buteco
Tá assim de vagabundo,
De quenga, de caxassêro,
O “pobrema” é profundo.

Tem uns “véi” “apuzentado”
Qui inventa di namorá,
Inquanto dêxa in casa
A veinha a lhe “isperá”,
Vai bebendo, vai curtindo
A cabeça vai ingaiá.

Vai pra feira, enche a cara
Perde o saco na “istrada”,
“Isquece” a “bicicreta”
Num tráiz feira, nun tráiz nada,
É um “furdunço” da gota
Êta vida “ atulemada”.

Mente pra sua “muié”
Aumenta a confusão,
Diz: o bolso tava furado
E eu perdi todo “tustão”
É comum vê esses cabra
Esses “tipo” no Sertão.

Meu amigo Cacá Lope
Eu vivo é “incabulado”
Aqui no nosso rincão
É um funaré laskado
É minino caxassêro
E muito “aduto” safado.

Sapatão, quenga, baitola
Dá inté pá importá,
Axé, fânki, som muderno
Ajuda a “iscuiambá”
Nega cum rabo di fora
Criança vê qué copiá.

Mas Cacá, um dia desses
Eu fui a uma vaquejada,
E “resurví” tomá uns gole
Cuma se diz, uma lapada
E chamei para dançá
Uma negona aloprada.

Eu já “quage” “imburanado”
Com a morena abufelei,
E bebo é “bixo” safado
Os “trabái” eu cumeçei
Tava cá gota serena
Quando um passo “infalso” dei.

A côrra “tafa ficano”
Muito bom, tava “arroxado”
Mas se eu num fosse “isperto”
Eu tinha me arrombado
Pois a “|pexte” da morena
Num era um diacho dum viado!

Aguardem brevemente, a resposta de Cacá para Dé Pageú.

São Paulo, 21 de julho de 2009.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Banho rural - Zila Mamede

Banho
(Rural)

Zila Mamede


De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
um passo brando pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio

com margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio

onde em cacimba e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba

e mais: o salitroso era deserto.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava

por longo capinzal, cantarolando;
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes

velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.

Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.

Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.

Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liqüefeita.

Então era a moça regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.

As estátuas - Maria da Paz



Frias, paradas, sem vida
Já tiveram vida, nome
Sobrenome e até moradias
Tinham amigos, família
Hoje vivem nas praças
Nas ruas, nas esquinas
Quem passa as vêem
Mas, e elas?
De olhos abertos,
Não enxergam nada!
Não têm alma, não reclamam
Ou talvés até reclamem
Mas, quem as escutam?
Algumas esquecidas
Outras adoradas
Muitas pequeninas
De pedras, mármore, cristal
Bronze, prata e até ouro
Não importa, são só estátuas

Maria da Paz
As estátuas
Macaíba 03/08/2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Exemplo de viver - vídeo

Se reclamas porque tens que realizar
trabalhos domésticos, veja esse rapaz
e crie coragem. Para de reclamar, deixa de ser inútil


sábado, 24 de julho de 2010

Pablo Neruda


Pablo Neruda

Angela Adonica

Hoje deitei-me junto a uma jovem pura
como se na margem de um oceano branco,
como se no centro de uma ardente estrela
de lento espaço.

Do seu olhar largamente verde
a luz caía como uma água seca,
em transparentes e profundos círculos
de fresca força.

Seu peito como um fogo de duas chamas
ardía em duas regiões levantado,
e num duplo rio chegava a seus pés,
grandes e claros.

Um clima de ouro madrugava apenas
as diurnas longitudes do seu corpo
enchendo-o de frutas extendidas
e oculto fogo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

terça-feira, 29 de junho de 2010

Se você me abandonar - Carneiro Portela


Se você me abandonar -
Poesia Matuta de Carneiro Portela


Se você não me quiser
tomo licor de pimenta
bebo leite de jumenta
num lhe dou mais cafuné
desembrabeço a maré
pra ver a praia endoidar
eu faço a cobra fumar
se você fugir de mim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar.

Se você não me quiser
bebo chumbo derretido
e nunca mais lhe convido
para ser minha mulher
num tem mais lua de mé
nem faço o sino tocar
nos lugares que eu pisar
num pode nascer capim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar.

Se você não me quiser
arranco o rabo do peba
a galinha se amanceba
com outro bicho qualquer
não dá um adeus sequer
com vergonha do preá
e na hora de acordar
fica tocando clarim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar.

Se você não me quiser
não é bom que se afoite
escovo a boca da noite
arranco a torre da sé
depois digo porque é
qui a muda não quer falar
o sol pára de brilhar
seu eu estiver sozim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar.

Se você não me quiser
eu dou um susto na morte
talvez ela não suporte
se eu lhe der um cangapé
e na hora que eu estiver
danado pra namorar
digo a ela pra estourar
o meu amor com estupim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar

Se você não me quiser
quebro a tampa do pinico
mas sozim não sei se fico
feito carro sem chofer
me dane se eu não fizer
a minha égua rinchar
e depois que me olhar
eu jogo ela pro vizim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar.

Se você não me quiser
eu ensino um burro a ler
e peço a ele pra dizer
que você ainda me quer
mas se ela me disser
que você não quer voltar
eu digo a ele pra falar
nem que seja no latim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar.

Se você não me quiser
eu fico brabo outra vez
e monto na gata pedrez
se outra igual não houver
se ela um chute me der
não ligo, tô com azar
mas se ela não concordar
qui eu sô bem bonitim
eu vou mudar de camim
se você me abandonar.

Fonte: “Nordeste Caboclo – Poesia Matuta”,
Carneiro Portela, Fortaleza, 2004,
Premius Editora

CARNEIRO PORTELA

"Sou um caboclo peitudo
desses da rede rasgada
eu nunca temi a nada
todo tempo topo tudo
nasci, cresci, tive estudo
sou filho de camponês
me criei pegando rês
num bom cavalo de cela
eu sou CARNEIRO PORTELA
este amigao de vocês"

Antônio Carneiro Portela (Coreaú, Ceará, 15/7/1950),
formado em Direito e Letras. Poeta, radialista
(“Forrozao da Verdinha” na Rádio Verdes Mares)
e apresentador de televisão(“Nordeste Caboclo” na TV Diário).
Pesquisador da Cultura Regional.
__________

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um pouco da história das Copas do Mundo - pesquisa

De quatro em quatro anos, seleções de futebol de diversos países do mundo se reúnem para disputar a Copa do Mundo de Futebol.

A competição foi criada pelo francês Jules Rimet, em 1928, após ter assumido o comando da instituição mais importante do futebol mundial: a FIFA ( Federation International Football Association).

A primeira edição da Copa do Mundo foi realizada no Uruguai em 1930. Contou com a participação de apenas 13 seleções, que foram convidadas pela FIFA, sem disputa de eliminatórias, como acontece atualmente. A seleção uruguaia sagrou-se campeã e pôde ficar, por quatro anos, com a taça Jules Rimet.

Uruguai (1930) / Itália (1934) / Itália (1938) / Uruguai (1950) / Alemanha (1954) / Brasil (1958) / Brasil ( 1962) / Inglaterra ( 1966) / Brasil (1970) / Alemanha (1974) / Argentina (1978) / Itália (1982) / Argentina (1986) / Alemanha (1990) / Brasil (1994) / França (1998) / Brasil (2002), Itália (2006).

O Brasil sentiria o gosto de erguer a taça pela primeira vez em 1958, na copa disputada na Suécia. Neste ano, apareceu para o mundo, jogando pela seleção brasileira, aquele que seria considerado o melhor jogador de futebol de todos os tempos: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Quatro anos após a conquista na Suécia, o Brasil voltou a provar o gostinho do título. Em 1962, no Chile, a seleção brasileira conquistou pela segunda vez a taça.

Em 1970, no México, com uma equipe formada por excelentes jogadores ( Pelé, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto Torres entre outros), o Brasil tornou-se pela terceira vez campeão do mundo ao vencer a Itália por 4 a 1. Ao tornar-se tricampeão, o Brasil ganhou o direito de ficar em definitivo com a posse da taça Jules Rimet.

Após o título de 1970, o Brasil entrou num jejum de 24 anos sem título. A conquista voltou a ocorrer em 1994, na Copa do Mundo dos Estados Unidos. Liderada pelo artilheiro Romário, nossa seleção venceu a Itália numa emocionante disputa por pênaltis. Quatro anos depois, o Brasil chegaria novamente a final, porém perderia o título para o pais anfitrião: a França.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Déjà vu

Déjà vu é uma reacção psicológica fazendo com que sejam transmitidas idéias de que já esteve naquele lugar antes, já se viu aquelas pessoas, ou outro elemento externo, enfim,que já vivei uma situação. O termo é uma expressão da língua francesa que significa, literalmente, já visto.

domingo, 6 de junho de 2010

Uma resposta a amiga Luzia Dorneles

Amiga,
ando muito sem tempo
Mas, tirei um tempinho
para te falar sobre seu recado.
Tudo que seu sobre Lucio Barbosa
inicialmente ouvi de boca
de algumas pessoas que conviveram com Ze Ramalho
Entao, resolvi pesquisar na internet mesmo
(Lucio Barbosa compositor).
Quanto aos artigos, alguns nao sao meus.
Sao retirados de Jornais locais,
quando julgo interessantes.
Ja os poemas matutos, grande partes sao meus
Sou professora de Ciencias,
formada na Universidade Potiguar - Natal RN
Desculpas mas, estou sem E-mail.
Alem disso, meu teclado
pirou e a acentuacao ja era.
Visite-me sempre

Ensino Médio de 30 dias?????????????????????


MP investiga cursos de ensino médio de 30 dias
Publicação: 06 de Junho de 2010 às 00:00


Wagner Lopes / Tatiana Lima - repórteres

Três anos de Ensino Médio, ou os nove anos do Ensino Fundamental, em apenas 30 dias. A oferta é tentadora para quem não concluiu os estudos. A repórter da TRIBUNA DO NORTE liga se dizendo interessada em conseguir o diploma do antigo “segundo grau”. O funcionário da empresa explica que para obtê-lo é necessário uma avaliação:

Emanuel Amaral
Se depender da promotora Luciana Maciel, o Estado deveria tomar uma atitude, um posicionamentoSe depender da promotora Luciana Maciel, o Estado deveria tomar uma atitude, um posicionamento
“Essa prova vai ter as matérias do nível médio, cada matéria 10 questões, todas de marcar, e vai ter de acertar cinco de cada disciplina. Acertando as cinco de cada, está aprovada com nível médio completo (…) A redação é opcional.”

A conversa continua e a repórter questiona das aulas.

“- Não são obrigatórias. O que importa na verdade é a prova mesmo. Se você não puder assistir às aulas, pega o material, estuda só em casa e se prepara para a prova.”

Surge outra dúvida. Por que a prova não é em Natal?

“- Tem de ser lá (em João Pessoa) porque o Governo Federal só autorizou uma cidade de cada região para fazer esse tipo de prova. No caso do Nordeste, a cidade disponível foi João Pessoa.”

Errado. Quem autoriza os exames são os conselhos estaduais. Mas de qualquer modo a prova pode ser difícil. No entanto o funcionário acalma a interessada:

“- A gente tem aluno aqui que está há quase 30 anos sem entrar em uma sala de aula e consegue ser aprovado.”

Bom. Mas ao se despedir, a repórter ainda questiona se o processo é irregular:

“- Não, não tem problema nenhum. Pode procurar nossas referências que você vai ver que o certificado é legalizado.”

A facilidade do processo chama atenção. Tanto que esse tipo de cursinho, oferecido por pelo menos duas instituições no estado, uma em Natal e outra em Parnamirim, recebe críticas da Secretaria Estadual de Educação (SEEC) e vem sendo investigado pelo Ministério Público Estadual. O inquérito civil 18/09 tramita na Promotoria de Educação de Parnamirim e deve ser repassado à Promotoria de Defesa do Consumidor. O objetivo é levantar informações a respeito dessa modalidade de ensino e, caso seja comprovada alguma irregularidade, ingressar com a devida ação judicial.

A promotora Luciana Maciel, que até a última quarta-feira atuou como substituta na promotoria onde corre o inquérito, entende que não deveria ser necessário aguardar por medidas jurídicas. “Acho que o Estado poderia tomar logo uma atitude, um posicionamento”, defende a representante do Ministério Público.

Ela lembra que a resolução 01/2007, do Conselho Estadual de Educação, exige não só que as instituições que realizam exames voltados para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), área que abrange atualmente os supletivos, sejam credenciados ao conselho. “Determina também que os cursos preparatórios para esses exames tenham esse credenciamento”, revela.

A subcoordenadora de Inspeção Escolar da Secretaria Estadual, Auxiliadora Albano, aponta a principal dificuldade do órgão em proibir o funcionamento desses tipos de cursinhos: “Tem nos incomodado muito, mas não temos como coibir porque eles levam os alunos para fazer os exames em João Pessoa e lá a escola onde é feita a prova é autorizada pelo conselho daquele estado. Então estamos de mãos atadas.”

Educadora considera um abuso

A subcoordenadora de Inspeção Escolar da Seec, Auxiliadora Albano, se mostra indignada e revela que muitas pessoas procuram a secretaria em busca de informações sobre os cursinhos que oferecem Ensino Fundamental ou Médio em 30 dias. “Não podemos dizer que é ilegal, mas é um abuso”, admite. Para ela, o certo seria as duas instituições pedirem credenciamento no conselho potiguar, para poderem realizar os exames no próprio Rio Grande do Norte. “Mas elas não fazem isso”, lamenta.

A subcoordenadora critica também o fato de as propagandas e faixas dos cursinhos (que geralmente não trazem os nomes das instituições) divulgarem que se tratam de exames “autorizados pelo Conselho Estadual de Educação”, sem especificarem que se trata do conselho paraibano e não o do Rio Grande do Norte. “Eles falam ainda do Ministério da Educação, mas o MEC não tem nada a ver com isso”, reclama. Os conselhos estaduais é que têm o poder de autorizar, ou não, tais exames.

A esperança de Auxiliadora Albano é no trabalho do Ministério Público e do próprio Conselho Estadual de Educação do RN, que vem acompanhando o caso. De acordo com a promotora Luciana Maciel, já foram solicitadas, inclusive, informações à Secretaria de Educação da Paraíba. “E temos também no inquérito um documento repassado pelo ex-secretário de Educação do Rio Grande do Norte, Ruy Pereira, que diz que mesmo o funcionamento de cursos avulsos precisa ser regulamentado pela secretaria.”

Provas no RN são mais criteriosas
Comparando as provas oferecidas pelos cursinhos de “30 dias” em João Pessoa e as realizadas pelas bancas permanentes ligadas à Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte fica fácil entender o atrativo das instituições que levam os alunos ao estado vizinho. O exame de João Pessoa dura apenas um domingo e inclui somente 120 questões, “todas de marcar”, como faz questão de ressaltar o funcionário de um dos cursinhos. Até a viagem de ida e volta à Paraíba está incluída no preço total do pacote.

O modelo adotado nas escolas públicas potiguares permite se fazer as provas de no máximo três disciplinas a cada sete dias, ou seja, o estudante leva um mínimo de três semanas para concluir as oito matérias do Ensino Médio e, se for reprovado em alguma, só poderá refazê-la após 60 dias. Além disso, são 40 questões por prova. Em Natal há bancas permanentes nos centros de educação Felipe Guerra (Praça Cívica), Reginaldo Teófilo (Caic de Lagoa Nova) e Lia Campos (avenida Coronel Estevam).

De acordo com o diretor do Felipe Guerra, José de Arimatéia Morais, os estudantes que desejam concluir o Ensino Médio têm ainda a opção de estudar no supletivo. Nesse caso, o Ensino Médio é concluído em um ano de estudos, durante o qual o aluno pode também ir realizando as provas da banca. “Se eles passarem em determinada disciplina, já não precisam frequentar as aulas daquela matéria”, explica.

Para o supletivo, a idade mínima é de 15 anos, no Ensino Fundamental, e 17 anos, quando se trata de Ensino Médio. “A banca é diferente. Você vem se matricula e faz a inscrição por disciplina, sem precisar assistir aula. Aí pode se preparar por conta própria e agenda uma prova por dia, no máximo três por semana”, detalha. No Ensino Fundamental é preciso aprovação em cinco disciplinas: Português, Matemática, Ciências, História e Geografia. No Ensino Médio são oito: Português, Matemática, Química, Física, História, Biologia, Geografia e Língua Estrangeira.

O Felipe Guerra atualmente conta com 2.304 alunos matriculados nos supletivos. Na banca permanente estão inscritos 3.787 no Ensino Médio e 1.677 no Fundamental. Para se ter uma ideia do rigor das provas, é comum haver reprovações. “Tem gente matriculada na banca desde 2008 e que vai fazendo e repetindo as provas até concluir todas as aprovações necessárias”, revela.