Dia do Nordestino - 08 de Novembro

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O Palhaço do Circo sem futuro - Cordel do fogo encantado

O Palhaço Do Circo Sem Futuro

Cordel Do Fogo Encantado

Sou palhaço do circo sem futuro
Um sorriso pintado a noite inteira
O cinema do fogo
Numa tarde embalada de poeira
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
Sou palhaço do circo sem futuro
Um sorriso pintado a noite inteira
O cinema do fogo
Numa tarde embalada de poeira
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
E a lona rasgada no alto
No globo os artistas da morte
E essa tragédia que é viver, e essa tragédia
Tanto amor que fere e cansa

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A muié qui mais amei - Wellington Vicente

A MUIÉ QUI MAIS AMEI
A namoradinha do Brasil
Espere aí, seu Dotô! 
Qui eu falo sem demora 
E escute nessa hora 
Uma históra de amô. 
Eu sempre fui sonhadô, 
Mai pru isso já paguei, 
Pruquê nunca imaginei 
Qui adispôis de aduto 
Eu fosse levá um chuto 
Da muié qui mais amei.
Viví toda a minha vida 
De casa para o roçado, 
Porém sempre interessado 
Em tê a muié quirida 
Pra torná-la a margarida 
Desse jardim qui sonhei, 
Inté qui um dia encrontei 
Essa pessoa importante 
Qui foi derna aquele instante 
A muié qui mais amei.
Se chamava Mariá, 
Tinha uns zói apaixonado 
E coipo mais torniado 
Qui móve coloniá. 
Quando batí o oiá 
Im riba dela, gostei, 
Ligeirim me apaixonei 
E ela pru eu gamô: 
Daí ganhei o amô 
Da muié qui mais amei.
Cum uns três mês de namôro 
Nói maiquemo o casamento, 
Sentí naquele momento 
Dono do maió tesôro. 
Drumino im beuço de ôro 
Vivia iguamente um rei, 
Mas cum o tempo notei 
Qui a minha felicidade 
Morria na farsidade 
Da muié qui mais amei.
Pois a minha Mariá 
Cum aquela cara de anjo, 
Num pudia vê maimanjo 
Pela istrada passá, 
Se danava a subiá 
Aí eu discunfiei, 
Chamei ela e recramei 
Ela nem ligô pra isto, 
Era iguá o Anti-Cristo 
A muié qui mais amei.
Quanto mais eu recramava 
Daquelas õinda medonha, 
Mais aquela sem-veigonha 
Essas coisa praticava, 
Eu ví qui jeito num dava, 
Um cigano precurei, 
Pra ele tudo contei 
Quando ele leu minha mão, 
Discubriu a traição 
Da muié qui mais amei.
Vortei pru meu barracão 
Munto tristonho pensano 
E aquilo martelano 
Dento do meu coração, 
Pois essa tá de traição 
Foi o qui mais odiei. 
Chegano lá confirmei 
O qui me disse o cigano: 
Incrontei o pé-de-pano 
Cum a muié qui mais amei.
Meu peito quáje qui istóra 
Inda pensei im matá-la, 
Mai num quis gastá uma bala 
Cum a cachorra, na hora, 
Tive qui mandá-la imbora 
Pegá a “manga-do-mêi”, 
As suas rôpa joguei 
Pela premêra janela, 
Nunca mais vi a cadela 
Da muié qui mais amei.
Hoje vivo disprezado, 
Sem amô e sem carinho, 
Mai é mió tá sozinho 
Do qui má acumpanhado. 
O qui dêxa eu revortado 
Seu Dotô, lhe falarei: 
É qui ixiste uma lei 
Num sei pru quem decretada, 
Qui me obriga a dá mesada 
À quenga qui mais amei.
Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 27/12/2003. 

Matuto no Fitibó - Zé Laurentino

Matuto no Fitibó
Hoje o pessoá do mato 
Já está se acivilizano 
Já tem rapaz istudano 
Pras bandas da capitá 
Já tem moça que namora 
Com o imbigo de fora 
Etc, coisa e tá 

Mas essas coisa eu estranho 
Me dano i num acumpanho 
A tar civilização 
Nem qui a morte me mate 
Nunca fui numa boate 
Nunca vi televisão 

E esse tar de cinema 
Eu num sei nem cuma é 
Se é home ou se é muié 
Se é da lua ou do sol 
Um teatro eu nunca vi 
E também nunca assisti 
Um jogo de fitibó 

É isso mermo patrão 
Eu nasci pra sê matuto 
Vivê cuma bicho bruto 
Dando di cumê a gado 
E eu só sei qui sô gente 
Purquê um véio meu parente 
Disse que eu sô batizado 

Mas pru arte do pecado 
Os fi de cumpade Xico 
O fazendêro mai rico 
Daquele meu arrebó 
Cum priguiça de istudá 
Inventô de inventá 
Um jogo de fitibó 

E no pátio da fazenda 
Mandô butá duas barra 
E eu fui assisti a farra 
Dos lote de vagabundo 
Qui quando eu vi afroxei 
Acridite qui eu achei 
A coisa mió do mundo 

Eu cabôco lazarino 
Cum dois metro de artura 
Os braços dessa grossura 
Medo pra mim é sulipa 
Di jogá tive um parpite 
E aceitei logo o convite 
Pru modi pegá de quipa 

Me dero um calção listrado 
E um par de joelheira 
Também um par de chuteira 
E uma camisa de gola 
Eu gritei: arra diabo 
Que eu já peguei touro brabo 
Sustentei pelo rabo 
Pur quê num pego uma bola? 

Sei qui o jogo cumeçô 
O juiz bom e honesto 
Que por sinal é Ernesto 
O nome do apitador 
Qui mitido a justicêro 
Pru modi o jogo pará 
Bastava a gente chutá 
A cara do cumpanheiro 

Bola vai, bola vem 
Um tar de Zé Paraíba 
Inventô de dá um driba 
No fíi de Chica Brejeira 
Esse lhe deu uma rasteira 
Que o pobre do matuto 
Passou foi cinco minuto 
Rebolando na poeira 

O juiz mandô chutá 
Uma bola contra eu 
Porque o Fubeque deu 
Um chute no Honorato 
Aí o juiz errô 
O Fubeque que chutô 
Ele que pagasse o pato 

Mais afiná meu patrão 
Num gosto de confusão 
Mandei o cabra chutá 
E fiquei isperano o choque 
Finarmente a bola vinha 
Vinha tão piquinininha 
Que nem bala de badoque 

Quando eu fui pegá a bola 
Me atrapaiei meu patrão 
Passô pur entre meus braço 
Bateu numa região 
Fou bateno e eu caino 
Me espuliano no chão 

O povo batero inriba 
Me déro um chá de jalapa 
Uns três copo de garapa 
E um chá de quixabeira 
Quando eu tive uma miora 
Joguei a chuteira fora 
Saí batendo a poeira 

Daquele dia pra cá 
Nem mode ganhá dinhêro 
Num jogo mais de golêro 
Nem cum chuva, nem cum só 
Nem aqui, nem no diserto 
Nunca mais passo nem perto 
Dum campo de fitibó 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Vou-me embora pro passado - Jessier Quirino

 Vou-me embora pro passado
Jessier Quirino
Encontrei na net





































"No rastro da Bandeira de Manuel"

Vou-me embora pro passado

Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
Roy Rogers, Buc Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.

Vou-me embora pro passado
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros Vemaguet
Jeep Willes, Maverick
Tem Gordine, tem Buick
Tem Candango e tem Rural.

Lá dançarei Twist
Hully-Gully, Iê-iê-iê
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette
Na farra dos piqueniques
Vou-me embora pro passado.

No passado tem Jerônimo 
Aquele Herói do Sertão
Tem Coronel Ludugero
Com Otrope em discussão
Tem passeio de Lambreta
De Vespa, de Berlineta
Marinete e Lotação.

Quando toca Pata Pata
Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
Cantando Banho de Lua
Tem bundeira e piniqueira 
Dando sopa pela rua
Vou-me embora pro passado.

Vou-me embora pro passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas "quebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó de Arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.

E lá no cinema Rex
Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de organdi
Com gola de tafetá.

Os homens lá do passado
Só andam tudo tinindo
De linho Diagonal
Camisas Lunfor, a tal
Sapato Clark de cromo
Ou Passo-Doble esportivo
Ou Fox do bico fino
De camisas Volta ao Mundo
Caneta Shafers no bolso
Ou Parker 51
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo
Cintilante como o sol.

Vou-me embora pro passado 
Lá tem tudo que há de bom!
Os mais velhos inda usam 
Sapatos branco e marrom 
E chapéu de aba larga
Ramenzone ou Cury Luxo
Ouvindo Besame Mucho
Solfejando a meio tom.

No passado é outra história!
Outra civilização...
Tem Alvarenga e Ranchinho 
Tem Jararaca e Ratinho
Aprontando a gozação
Tem assustado à Vermuth
Ao som de Valdir Calmon
Tem Long-Play da Mocambo
Mas Rosenblit é o bom
Tem Albertinho Limonta
Tem também Mamãe Dolores
Marcelino Pão e Vinho
Tem Bat Masterson, tem Lesse
Túnel do Tempo, tem Zorro
Não se vê tantos horrores.

Lá no passado tem corso 
Lança perfume Rodouro
Geladeira Kelvinator
Tem rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro
Se ouve Carlos Galhardo
Em Audições Musicais
Piano ao cair da tarde
Cancioneiro de Sucesso
Tem também Repórter Esso
Com notícias atuais.

Tem petisqueiro e bufê 
Junto à mesa de jantar
Tem bisqüit e bibelô
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brinca de cabra cega
De drama, de garrafão
Camoniboi, balinheira
De rolimã na ladeira
De rasteira e de pinhão.

Lá, também tem radiola 
De madeira e baquelita 
Lá se faz caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estuda a tabuada
De Teobaldo Miranda
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo 
E a palmatória é quem manda.

Tem na revista O Cruzeiro 
A beleza feminina
Tem misse botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Astória
Tem o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Glostora
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.

Se ouve página sonora 
Na voz de Ângela Maria
"— Será que sou feia?
— Não é não senhor!
— Então eu sou linda?
— Você é um amor!..."

Quando não querem a paquera
Mulheres falam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.

No passado tem remédio
Pra quando se precisar
Lá tem Doutor de família
Que tem prazer de curar
Lá tem Água Rubinat
Mel Poejo e Asmapan
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tem também aqui pra nós
Uma tal Robusterina 
A saúde feminina.

Vou-me embora pro passado
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
Nem asfalto nem entulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma cama Patente
Daquelas do selo azul
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais futuro
Vou-me embora pro passado


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

ÉS A MAIS LINDA DAS MULHERES! JOÃO PESSOA




ÉS A MAIS LINDA DAS MULHERES!

Não penses que me casei com o teu cabelo,
Era comprido, negro, como o mármore mais lindo do Namibe.
Os teus seios onde me perdia tantas vezes, 
eram firmes e sedutores, mas também não me casei com eles.

Mesmo nos momentos em que vomitavas depois da quimioterapia.
Dos momentos de desânimo quando recusavas o tratamento.
E eu insistindo, “tem que ser, tem que ser, meu amor”

Dos momentos de fragilidade em que me pedias para te abraçar,
E sussurrando me dizias, "não podes amar uma mulher mutilada!
Dos momentos de desespero em que já não me querias.
Gritavas para me ir embora da tua vida
Sabendo tu que a minha vida eras tu!

Pois é, meu Amor.
Não me casei com todos esses teus fantasmas!

Casei-me contigo!
Com a tua coragem que me ajuda a vencer!
Com tua ternura que me ajuda a adormecer!
Com o teu Amor que me ajuda a viver!

Não mulher, és a mais linda das mulheres!
É a ti que eu Amo!
********************
João Pessoa - 
(Dedico às Mulheres que Lutaram e Venceram o cancro da mama e em memória daquelas que ficaram pelo caminho.)
Partilhe, por favor, a Mulher deve ser alertada para esta doença cruel. Pode ser você! 
PARTILHE, ajude nesta luta!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Cordel do Fogo Encantado - Invocação para um Dia Líquido

"O sabiá no sertão
Quando canta me comove,
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove*
Chover chover
Valei-me Ciço o que posso fazer
Chover chover
Um terço pesado pra chuva descer
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Chover chover
Cego Aderaldo peleja pra ver
Chover chover
Já que meu olho cansou de chover
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Meu povo não vá simbora
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mais vai dar cada trovão
De escapulir torrão
De paredão de tapera**
Bombo trovejou a chuva choveu
Choveu choveu
Lula Calixto virando Mateus
Choveu choveu
O bucho cheio de tudo que deu
Choveu choveu
suor e canseira depois que comeu
Choveu choveu
Zabumba zunindo no colo de Deus
Choveu choveu
Inácio e Romano meu verso e o teu
Choveu choveu
Água dos olhos que a seca bebeu
Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola**
Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou***


*Zé Bernardinho
**João Paraíbano
***Toque pra boiadeiro