Dia do Nordestino - 08 de Novembro

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Matuto no Fitibó - Zé Laurentino

Matuto no Fitibó
Hoje o pessoá do mato 
Já está se acivilizano 
Já tem rapaz istudano 
Pras bandas da capitá 
Já tem moça que namora 
Com o imbigo de fora 
Etc, coisa e tá 

Mas essas coisa eu estranho 
Me dano i num acumpanho 
A tar civilização 
Nem qui a morte me mate 
Nunca fui numa boate 
Nunca vi televisão 

E esse tar de cinema 
Eu num sei nem cuma é 
Se é home ou se é muié 
Se é da lua ou do sol 
Um teatro eu nunca vi 
E também nunca assisti 
Um jogo de fitibó 

É isso mermo patrão 
Eu nasci pra sê matuto 
Vivê cuma bicho bruto 
Dando di cumê a gado 
E eu só sei qui sô gente 
Purquê um véio meu parente 
Disse que eu sô batizado 

Mas pru arte do pecado 
Os fi de cumpade Xico 
O fazendêro mai rico 
Daquele meu arrebó 
Cum priguiça de istudá 
Inventô de inventá 
Um jogo de fitibó 

E no pátio da fazenda 
Mandô butá duas barra 
E eu fui assisti a farra 
Dos lote de vagabundo 
Qui quando eu vi afroxei 
Acridite qui eu achei 
A coisa mió do mundo 

Eu cabôco lazarino 
Cum dois metro de artura 
Os braços dessa grossura 
Medo pra mim é sulipa 
Di jogá tive um parpite 
E aceitei logo o convite 
Pru modi pegá de quipa 

Me dero um calção listrado 
E um par de joelheira 
Também um par de chuteira 
E uma camisa de gola 
Eu gritei: arra diabo 
Que eu já peguei touro brabo 
Sustentei pelo rabo 
Pur quê num pego uma bola? 

Sei qui o jogo cumeçô 
O juiz bom e honesto 
Que por sinal é Ernesto 
O nome do apitador 
Qui mitido a justicêro 
Pru modi o jogo pará 
Bastava a gente chutá 
A cara do cumpanheiro 

Bola vai, bola vem 
Um tar de Zé Paraíba 
Inventô de dá um driba 
No fíi de Chica Brejeira 
Esse lhe deu uma rasteira 
Que o pobre do matuto 
Passou foi cinco minuto 
Rebolando na poeira 

O juiz mandô chutá 
Uma bola contra eu 
Porque o Fubeque deu 
Um chute no Honorato 
Aí o juiz errô 
O Fubeque que chutô 
Ele que pagasse o pato 

Mais afiná meu patrão 
Num gosto de confusão 
Mandei o cabra chutá 
E fiquei isperano o choque 
Finarmente a bola vinha 
Vinha tão piquinininha 
Que nem bala de badoque 

Quando eu fui pegá a bola 
Me atrapaiei meu patrão 
Passô pur entre meus braço 
Bateu numa região 
Fou bateno e eu caino 
Me espuliano no chão 

O povo batero inriba 
Me déro um chá de jalapa 
Uns três copo de garapa 
E um chá de quixabeira 
Quando eu tive uma miora 
Joguei a chuteira fora 
Saí batendo a poeira 

Daquele dia pra cá 
Nem mode ganhá dinhêro 
Num jogo mais de golêro 
Nem cum chuva, nem cum só 
Nem aqui, nem no diserto 
Nunca mais passo nem perto 
Dum campo de fitibó 

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