Dia do Nordestino - 08 de Novembro

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

É mais que orgulho - é amor pelo Nordeste - Maria da Paz

Viva o nordeste,
Terra de bumba meu boi
Viva o frevo, o forró e o maracatu
O xaxado e o Martelo agalopado
A arte do Zé Pereira, esses bonecos de Olinda
Na Bahia o candomblé, oraieiê ô mãe Oxum
E o tambor de Crioula em São Luiz do Maranhão
Paraíba, Mulher macho sim Senhor
Em Jampa tem bolero de Ravel
Todo dia ao entardecer na Praia do Jacaré
Aqui todos tem o seu valor
Viva a beleza de nossas praias,   

Viva o Morro do Careca,
Dar um passeio de búgui 
Nas Dunas de Jenipabú
Quem sabe em Maceió
Visitar praia do Gunga
São Miguel dos milagres
Ou então se encantar com o 
Azul do Mar de Pajuçara
O arquipélago de Fernando de Noronha
Reserva tanta Beleza
A jinga com tapioca e o bejú
Viva o pirão de mocotó,
E a  saborosa carne de Sol, 
A jabá com jerimum, batata e o cará
Caruru, acarajé e abará
Viva a macaxeira  e a manteiga de garrafa.
Viva o povo dessa Terra
Literatura de Cordel Patativa de Assaré
Jorge Amado, Graciliano Ramos
Dorival, 
Danilo, Dori e Nana
Essa é a família Caymmi 
José Ribamar Ferreira ou somente Gullar
Clarice Lispector 
Cego Aderaldo, Ariano Suassuna.

João Cabral de Melo Neto
Viva Antônio Conselheiro
Viva Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Alceu Valença
Elba, Gal, Bethania e Amelhinha
Genilval Lacerda, Biliu de Campina Grande
Dominguinhos e o Jackson do Pandeiro
Viva os maiores forrós do Mundo 
Em Campina Grande e Caruaru. 
Viva o Rio São Francisco 
que se deita no nordeste 
Viva o trabalhador braçal, 
Viva o velho sertanejo,
Gente que luta feliz

Frei Damião - Maria da Paz dos Santos

FREI DAMIÃO

Há 16 anos, no dia 31 de maio de 1997, morria aqui no Recife, com 99 anos de idade, Frei Damião de Bozzano, considerado santo pelo nosso povo.
Em homenagem a este mito nordestino, nascido na Itália, um pequeno poema que fiz lembrando o meu pai.

Uma imagem de santo na parede
Uma reza, um terço, uma oração
É assim a fé do Nordestino
Em seu santo Padim Frei Damião

Não há um pé de pessoa
Que não tenha um milagre pra contar
Ou uma história dessa bem boa
Que ninguém  se atreva  a duvidar


As filas faziam curvas na hora de confessar
Era um monte de pecados
Que todos tinham que debulhar
Homens, mulheres, crianças ninguém ficava calado

Na hora de receber penitência
Era aquela agonia
- Mulher tú tenha decência
Reze 100padre nosso e 200ave Maria

Num tom de brabeza e bença
Vive nosso  povo na fé
Entre o mito  e a lenda
É assim que o povo quer

É como diz o ditado
Se não queres ir à montanha
Fique aqui, esperando Maomé



31/05/2013
Macaíba RN
Maria da Paz dos Santos


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Fulô do Mato - Renato Caldas



Fulô do Mato - Renato Caldas

Sá Dona Vossa Mecê
É a fulô mais chêrosa,
A fulo mais perfumosa
qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume
de tudo que fô prefume
de tudo qui fô fulô,
qui nenhuma, nem uma só
tem o cheiro do suó
qui seu corpinho suô.
- Tem cheiro de madrugada,
Fartum de areia muiáda,
Qui o uruváio inxombriô.
É um cheiro bom, déferente,
Qui a gente sintindo, sente,


Das outa coisa o fedô.

Os sete constituintes - Antonio Francisco




                                                                                                                                                                                                   
                           OS SETE CONSTITUINTES 
                            Quem já passou no sertão
E viu o solo rachado,
A caatinga cor de cinza,
Duvido não ter parado
Pra ficar olhando o verde
Do juazeiro copado.




                                E sair dali pensando:
Como pode a natureza
Num clima tão quente e seco,
Numa terra indefesa
Com tanta adversidade
Criar tamanha beleza.




                               O juazeiro, seu moço,
É pra nós a resistência,
A força, a garra e a saga,
O grito de independência
Do sertanejo que luta
Na frente da emergência.


                      Nos seus galhos se agasalham
Do periquito ao cancão.
É hotel do retirante
Que anda de pé no chão,
O general da caatinga
E o vigia do sertão.




                           E foi debaixo de um deles
Que eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.



                              Isso já faz tanto tempo
Que eu nem me lembro mais
Se foi pra lá de Fortim,
Se foi pra cá de Cristais,
Eu só me lembro direito
Do que disse os animais.



                               Eu vinha de Canindé
Com sono e muito cansado,
Quando vi perto da estrada
Um juazeiro copado.
Subi, armei minha rede
E fiquei ali deitado.




                           Como a noite estava linda,
Procurei ver o cruzeiro,
Mas, cansado como estava,
Peguei no sono ligeiro.
Só acordei com uns gritos
Debaixo do juazeiro.




                         Quando eu olhei para baixo
Eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.



                                  O porco dizia assim:
– “Pelas barbas do capeta!
Se nós ficarmos parados
A coisa vai ficar preta…
Do jeito que o homem vai,
Vai acabar o planeta.




                          Já sujaram os sete mares
Do Atlântico ao mar Egeu,
As florestas estão capengas,
Os rios da cor de breu
E ainda por cima dizem
Que o seboso sou eu.




                          Os bichos bateram palmas,
O porco deu com a mão,
O rato se levantou
E disse: – “Prestem atenção,
Eu também já não suporto
Ser chamado de ladrão.



                                               
                      O homem, sim, mente e rouba,
Vende a honra, compra o nome.
Nós só pegamos a sobra
Daquilo que ele come
E somente o necessário
Pra saciar nossa fome.”




                            Palmas, gritos e assovios
Ecoaram na floresta,
A vaca se levantou
E disse franzindo a testa:
– “Eu convivo com o homem,
Mas sei que ele não presta.



                              É um mal-agradecido,
Orgulhoso, inconsciente.
É doido e se faz de cego,
Não sente o que a gente sente,
E quando nasce e tomando
A pulso o leite da gente.



                              Entre aplausos e gritos,
A cobra se levantou,
Ficou na ponta do rabo
E disse: – “Também eu sou
Perseguida pelo homem
Pra todo canto que vou.



                         Pra vocês o homem é ruim,
Mas pra nós ele é cruel.
Mata a cobra, tira o couro,
Come a carne, estoura o fel,
Descarrega todo o ódio
Em cima da cascavel.


                                                     
                           É certo, eu tenho veneno,
Mas nunca fiz um canhão.
E entre mim e o homem,
Há uma contradição
O meu veneno é na presa,
O dele no coração.


                         Entre os venenos do homem,
O meu se perde na sobra…
Numa guerra o homem mata
Centenas numa manobra,
Inda tem cego que diz:
Eu tenho medo de cobra.”



                              A cobra inda quis falar,
Mas, de repente, um esturro.
É que o rato, pulando,
Pisou no rabo do burro
E o burro partiu pra cima
Do rato pra dar-lhe um murro.


                                          
                            Mas, o morcego notando
Que ia acabar a paz,
Pulou na frente do burro
E disse: – “Calma, rapaz!…
Baixe a guarda, abra o casco,
Não faça o que o homem faz.”


                           O burro pediu desculpas
E disse: – “Muito obrigado,
Me perdoe se fui grosseiro,
É que eu ando estressado
De tanto apanhar do homem
Sem nunca ter revidado.”



                           O rato disse: – “Seu burro,
Você sofre porque quer.
Tem força por quatro homens,
Da carroça é o chofer…
Sabe dar coice e morder,
Só apanha se quiser.”



                            O burro disse: – “Eu sei
Que sou melhor do que ele.
Mas se eu morder o homem
Ou se eu der um coice nele
É mesmo que estar trocando
O meu juízo no dele.


                           Os bichos todos gritaram:
– “Burro, burro… muito bem!”
O burro disse: – “Obrigado,
Mas aqui ainda tem
O cachorro e o morcego
Que querem falar também.”



                       O cachorro disse: – “Amigos,
Todos vocês têm razão…
O homem é um quase nada
Rodando na contramão,
Um quebra-cabeça humano
Sem prumo e sem direção.



                            Eu nunca vou entender
Por que o homem é assim:
Se odeiam, fazem guerra
E tudo o quanto é ruim
E a vacina da raiva
Em vez deles, dão em mim.”



                          Os bichos bateram palmas
E gritaram: – “Vá em frente.”
Mas o cachorro parou,
Disse: – “Obrigado, gente,
Mas falta ainda o morcego
Dizer o que ele sente.”



                            O morcego abriu as asas,
Deu uma grande risada
E disse: – “Eu sou o único
Que não posso dizer nada
Porque o homem pra nós
Tem sido até camarada.



                          Constrói castelos enormes
Com torre, sino e altar,
Põe cerâmica e azulejos
E dão pra gente morar
E deixam milhares deles
Nas ruas, sem ter um lar.”



                             O morcego bateu asas,
Se perdeu na escuridão,
O rato pediu a vez,
Mas não ouvi nada, não.
Peguei no sono e perdi
O fim da reunião.



                           Quando o dia amanheceu,
Eu desci do meu poleiro.
Procurei os animais,
Não vi mais nem o roteiro,
Vi somente umas pegadas
Debaixo do juazeiro.


                  
                        Eu disse olhando as pegadas:
Se essa reunião
Tivesse sido por nós,
Estava coberto o chão
De piubas de cigarros,
Guardanapo e papelão.



                            Botei a maca nas costas
E saí cortando o vento.
Tirei a viagem toda
Sem tirar do pensamento
Os sete bichos zombando
Do nosso comportamento.



                           Hoje, quando vejo na rua
Um rato morto no chão,
Um burro mulo piado,
Um homem com um facão
Agredindo a natureza,
Eu tenho plena certeza:
Os bichos tinham razão.
   

                                                               

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Poema de Gregório de Mattos

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés de homens nobres,
Postas nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
(“Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia”)