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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A muié qui mais amei - Wellington Vicente

A MUIÉ QUI MAIS AMEI
A namoradinha do Brasil
Espere aí, seu Dotô! 
Qui eu falo sem demora 
E escute nessa hora 
Uma históra de amô. 
Eu sempre fui sonhadô, 
Mai pru isso já paguei, 
Pruquê nunca imaginei 
Qui adispôis de aduto 
Eu fosse levá um chuto 
Da muié qui mais amei.
Viví toda a minha vida 
De casa para o roçado, 
Porém sempre interessado 
Em tê a muié quirida 
Pra torná-la a margarida 
Desse jardim qui sonhei, 
Inté qui um dia encrontei 
Essa pessoa importante 
Qui foi derna aquele instante 
A muié qui mais amei.
Se chamava Mariá, 
Tinha uns zói apaixonado 
E coipo mais torniado 
Qui móve coloniá. 
Quando batí o oiá 
Im riba dela, gostei, 
Ligeirim me apaixonei 
E ela pru eu gamô: 
Daí ganhei o amô 
Da muié qui mais amei.
Cum uns três mês de namôro 
Nói maiquemo o casamento, 
Sentí naquele momento 
Dono do maió tesôro. 
Drumino im beuço de ôro 
Vivia iguamente um rei, 
Mas cum o tempo notei 
Qui a minha felicidade 
Morria na farsidade 
Da muié qui mais amei.
Pois a minha Mariá 
Cum aquela cara de anjo, 
Num pudia vê maimanjo 
Pela istrada passá, 
Se danava a subiá 
Aí eu discunfiei, 
Chamei ela e recramei 
Ela nem ligô pra isto, 
Era iguá o Anti-Cristo 
A muié qui mais amei.
Quanto mais eu recramava 
Daquelas õinda medonha, 
Mais aquela sem-veigonha 
Essas coisa praticava, 
Eu ví qui jeito num dava, 
Um cigano precurei, 
Pra ele tudo contei 
Quando ele leu minha mão, 
Discubriu a traição 
Da muié qui mais amei.
Vortei pru meu barracão 
Munto tristonho pensano 
E aquilo martelano 
Dento do meu coração, 
Pois essa tá de traição 
Foi o qui mais odiei. 
Chegano lá confirmei 
O qui me disse o cigano: 
Incrontei o pé-de-pano 
Cum a muié qui mais amei.
Meu peito quáje qui istóra 
Inda pensei im matá-la, 
Mai num quis gastá uma bala 
Cum a cachorra, na hora, 
Tive qui mandá-la imbora 
Pegá a “manga-do-mêi”, 
As suas rôpa joguei 
Pela premêra janela, 
Nunca mais vi a cadela 
Da muié qui mais amei.
Hoje vivo disprezado, 
Sem amô e sem carinho, 
Mai é mió tá sozinho 
Do qui má acumpanhado. 
O qui dêxa eu revortado 
Seu Dotô, lhe falarei: 
É qui ixiste uma lei 
Num sei pru quem decretada, 
Qui me obriga a dá mesada 
À quenga qui mais amei.
Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 27/12/2003. 

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