Dia do Nordestino - 08 de Novembro

sábado, 12 de setembro de 2015

Cícera nasceu - Maria da Paz

Era tarde. Tudo parecia parado.
O vento não vinha. Estava nublado
mas, a chuva também não veio
Eu disse parecia parado,
mas dentro da casa, um fogo acesso,
uma panela de água fervia.
Minha mãe no quarto gritava baixo
 Minha avó era ligeira,
ia no quarto, voltava pra cozinha
repetidas vezes.
Deu-me uma ordem:
Fique na Janela, olhando pra lá,
Vai chegar um homem aqui e ele
virá de lá e apontou pra uma estradinha
 no fundo da casa.
Continuou dizendo: O nome dele
é cabelo Duro, assim que ele apontar
saia pra me avisar.
Eu fiquei na janela por longas horas,
mas ouvia a inquietude de todos.
-Antonio! Atice o fogo!, dizia minha avó
De onde estava, via o vai e vem
Uma bacia branca de ágda,
uma tesoura velha quase que enferrujada,
uma toalha branca, lençóis  e um líquido
em uma garrafa, provavelmente,
uma pinga das boas. Mais não tenho certeza.
Meu pai estava nervoso e circulava dentro da casa.
Meu avô, resolveu ficar quieto em um canto do terreiro
Depois cortou lenha.
Eu esperava o tal homem,
como se espera um príncipe encantado
Mas, ele não veio, nem vinha, né?
Eu sabia o que estava acontecendo
Acho que sabia...
-Antonio! Ajuda aqui, homem!
Mas, a inquietude dele era grande ele ia, vinha.ia
Faça força, dizia ela de vez em quando
Tentei falar com ela, mas, a resposta foi:
- O homem já vem?
- Não!
- Então, volte pra lá, fique pastorando, viu!?
Voltei e alguns minutos depois,
ouvi o choro de bebê
-Nasceu!
-Nasceu, Antonio.
Estava laçada. Por isso demorou,
Criança que nasce laçada tem que
receber nome de Santo, viu!?
Meu vô, veio ligeiro e agradeceu a Deus.
Nesse ponto, perguntei:
- Se o homem não veio, posso sair do quarto?
Pode.  Disse minha avó,
- Ele veio! O homem veio pela porta da sala.
Sua irmanzinha chegou, viu!?
Passando pela cozinha com  panos brancos
enrolados, mas, que deu pra ver manchas de sangue
Perguntei: E esse sangue?
- De galinha. Vamos preparar um pirão de galinha.
Fiquei contente, pois, adoro até hoje, pirão de galinha.
Ela disse ainda: Vou banhar sua irmã, aí você vai ver ela.
Minha mãe me chamou, estava visivelmente suada e cansada
E disse: Sua irmã se chamará Cicera, como seu avô é Cicero.
Elá será Cicera. Como Cicero Romão.
Como Pradim Ciço Romão, acrescentou meu pai.
Foi uma semana inesquecível.
Pirão de galinha e arroz de leite.
As pessoas vinham visitar e tomar o mijo da menina.
Dorinha e Zé Flor veio visitar e
ficaram sabendo que iam ser os padrinhos
Seu Zé Flor ficou contente com a novidade.
Minha prima Lulú que também
estava na casa no dia do nascimento
e que por alguma razão não lembro
se ela ficou no quarto com minha avó
ou se ficou na sala.
Mas, o importante é que ela também estava contente.
Pois também foi informada
que seria a madrinha de vela.
Toda tarde minha mãe banhava minha irmã
e enrolava em panos brancos
bordados e eu sentava no batente da cozinha
para segurá-la por alguns minutos.



Minha avó era parteira na região onde morávamos
Regina Tereza da Guia
Mãe Véia ou MãeÔta (manhota)
(Mãe  outra) - Avó é a outra mãe.
Sinha Regina ou Dona Regina
Madrinha Regina


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