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Edição de quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Do sonho a uma dura realidade
Levantamento indica que 80% dos moradores de rua de Natal vieram de outros lugares para tentar a sorte na capital
Rafael Duarte // rafaelduarte.rn@diariosassociados.com.br
Linaldo Gomes de Jesus tem 41 anos, é divorciado, pai de duas filhas e mora em Petrópolis. O relato cairia bem na descrição de um típico cidadão de classe média, não fosse Linaldo um morador de rua que encontrou abrigo, há três anos, embaixo da marquise de uma loja localizada por trás da Catedral Metropolitana de Natal. Natural de Salvador, ele integra uma lista onde estão incluídas dezenas de pessoas que vêm de outros municípios ou estados para tentar a sorte na cidade, mas esbarram em algum problema social. No caso de Linaldo, que veio em 2006 com o intuito de ficar perto das duas filhas, o desemprego o empurrou para o meio da rua. 'Quando cheguei, fiquei numa pensão até acabar o dinheiro que tinha. Procurei trabalho em tudo quanto foi lugar. Deixei o currículo em várias empresas e nada. Já perdi as esperanças, até porque só sei assinar o nome', diz resignado o soteropolitano que ajuda um colega a vigiar e lavar os carros estacionados num trecho da rua Floriano Peixoto.
O curioso é que casos como o de Linaldo não são raros na cidade. É o que aponta um estudo realizado pela Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semthas) em setembro durante os três turnos (manhã, tarde e noite) nas quatro zonas administrativas da capital. A pesquisa, batizada de 'Levantamento da Situação de Rua do Município de Natal', dividiu o universo de entrevistados em dois tipos: os que moram na rua por opção e os que vivem em 'situação de rua' e envolve as pessoas levadas, por algum motivo, a deixar a casa onde moravam para viver pelo mundo. Segundo a diretora do Departamento de Proteção Social e Especial da Semthas, Verônica Dantas, 80% das pessoas que moram na rua têm história parecida com a de Linaldo. 'A maioria vive em situação de rua. São pessoas que ou vem de outros municípios e acabam ficando na rua porque alguma coisa deu errada ou aqueles que passam o dia na rua e voltam para casa à noite', disse.
Maioria é de adultos
Embora a pesquisa ainda não tenha sido concluída, daí a não divulgação dos números oficiais, Verônica conta que 85% da população que mora na rua é formada por adultos entre 18 e 59 anos, seguido de crianças de 0 a 17 anos (10%) e idosos, acima de 60 anos (5%). Na outra ponta do estudo, referente aos que optaram pela rua, estão os cidadãos que saem ou são expulsos de casa por conta de problemas familiares, como a violência doméstica e o consumo excessivo de drogas ilícitas e álcool.
A diferença entre os dois mundos também se vê nos locais mais frequentados pelo grupo. Enquanto a população que vive em situação de rua é encontrada nos bairros do Alecrim, Ponta Negra, Lagoa Seca (próximo ao Midway), Centro e nas avenidas Integração e Bernardo Vieira, os moradores de rua sobrevivem próximo ao viaduto de Igapó (Zona Norte), Palácio dos Esportes (Petrópolis), Rodoviária Nova (Cidade da Esperança) e nas calçadas do complexo de bares e restaurantes no bairro de Cidade Jardim e na região que margeia um hipermercado na Cidade Satélite.
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