Diário de Natal
Na íntegra
Cemitério pode estar poluindo rio
Ciências
Edição de domingo, 6 de setembro de 2009
Cemitério pode estar poluindo rio
Águas do Pitimbu, que abastecem 30% de Natal, estão com substância liberada por cadáveres decompostos
Adriana Amorim // adrianaamorim.rn@diariosassociados.com.br
Pesquisas desenvolvidas pela organização não-governamental Navima (Nature Viva Mangue) detectaram alta incidência de poluição em quase todo o prolongamento do Rio Pitimbu, um dos mananciais mais importantes do estado e responsável por abastecer 30% de Natal e área metropolitana. Dentre os trechos mais preocupantes, está a região do cemitério Morada da Paz, no município de Parnamirim. Foi detectada a presença de metais, possivelmente provenientes das alças dos caixões, e de necrochorume, líquido proveniente da decomposição dos corpos.
Rio é um dos mananciais mais importantes do RN, responsável por abastecer Natal e sua área metropolitana Foto: Frankie Marcone/DN/D.A Press
A constatação partiu de análise de plantas aningas ao longo do rio. A planta aquática retém substâncias das mais diversas e é considerada um indicador de poluição. Segundo a bióloga Rosimeire Dantas, presidente da ONG, o necrochorume, apesar de rico em sais minerais e substâncias orgânicas degradáveis, também libera toxinas. Ela explica que podem estar presentes no necrochorume patogênicos como bactérias e vírus de pessoasque morrem com doenças infectocontagiosas. 'Aquelas que fizeram tratamento quimioterápico em virtude de câncer liberam fármacos, que também vão parar no lençol freático e, consequentemente, no rio', alertou a pesquisadora.
Rosimeire reforça que a região é considerada Área de Preservação Permanente (APP), amparada pelo Artigo 225 da Constituição Federal e diz que o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) estabelece, em sua resolução 335, de 3 de abril de 2003, condições mínimas necessárias para o licenciamento ambiental dos cemitérios no Brasil. Contudo, explicou, não há precisamente uma definição concreta acerca da aplicação da resolução sobre o impacto efetivo sobre o ambiente, o risco para a população vizinha e as restrições e cuidados necessários. 'Mesmo com grandes agravantes, o cemitério consegue se manter no local. Mas, a partir de que estudos e baseada em que legislação foi dada a sua liberação?', questiona.
Recentemente, a Navima realizou levantamento nas áreas em torno do Pitimbu e descobriu quemuitos moradores apresentaram quadro clínico positivo de Hepatite A, doença que pode causar necrose do fígado e cujo diagnóstico tardio pode levar à morte. 'Muitos estão incubando o vírus sem saber a causa. É importante frisar que este tipo de vírus é transmitido pela água ou alimentos', destacou. 'Na verdade, todos aqueles empreendimentos às margens do Rio Pitmbu estão irregulares'. A pesquisa verificou ainda que o único trecho não poluído compreende a área da Base Aérea de Natal, justamente por preservar a mata ciliar e por não poluir as águas.
Outro lado
De acordo com Heder Vila, gerente de operações do Grupo Vila, responsável pela administração do cemitério Morada da Paz - em funcionamento desde 1993 -, os jazigos são construídos em concreto pré-moldado e, quando vedados, os tornam impermeáveis. E diz que o Conama estabelece uma distância mínima de 1,5m dos túmulos do leito de rios. 'Estamos a mais de 20m', apontou, reforçando ainda que, duas vezes ao ano, o empreendimento realiza análises da água do rionaquela região junto a instituições de pesquisa como IFRN e Emparn.
'Em nenhuma delas houve presença de nitrato, nem de coliformes fecais', garantiu, argumentando ainda que o Grupo está preocupado com as questões ambientais. 'Já realizamos duas ações de plantio de mudas e estamos em parceria com o Barco-Escola (Idema), quando faremos, junto com estudantes de escolas públicas, um trabalho de limpeza do Rio Potengi. Ou seja, não nos preocupamos apenas com a morte, mas com a vida, sobretudo'.
Conferência
Rosimeire Dantas será a única representante do Brasil na Conferência Ibero-Americana de Administração Geral da Água, que acontece a partir de amanhã em Montevidéu, no Uruguai. O evento prossegue até dia 11 deste mês e vai reunir 27 países das Américas do Sul e Central. O nome da pesquisadora foi indicado pela Companhia Independente de Proteção Ambiental (Cipam), da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, pelo mérito de ser especialista na questão de gestão das águas interiores brasileiras e pelo seu trabalho junto a ONG Navima. Ela é considerada a única estudiosa sobre o assunto no Estado e uma das poucas no país."
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