Dia do Nordestino - 08 de Novembro

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Matuto no Futibó - Zé Larentino



MATUTO NO FUTIBÓ
(Zé Laurentino)

Zé Laurentino é um dos melhores poetas da literatura popular, e esta belíssima poesia faz parte de um dos seus tantos livros - POESIAS MATUTAS.

Hoje o pessoá do mato
já tá se civilizando
já tem rapaz estudando
p´ras bandas da capitá
já tem moça que namora
com o imbigo de fora
ediceta coisa e tá.

Mas essas coisas eu estranho
me dano e não acompanho
a tá civilização
até que a morte me mate
nunca eu fui numa boate
nunca vi televisão.

E este tá de cinema
eu num sei nem cuma é
se é home ou se é mulé
se vem da Lua ou do Só
um triato eu nunca vi
e também nunca assisti
um jogo de futibó.

É isso mesmo patrão
eu nasci p´ra ser matuto
viver que nem bicho bruto
dando de cumê a gado
eu só acho que sou gente
pruque um véi meu parente
disse que eu sou batizado.

Mais pru arte dos pecados
um fí de cumpade Chico
o fazendeiro mais rico
dali daquele arredó
cum preguiça de estudar
inventou de inventá
um jogo de futibó.

E no paito da fazenda
mandou botar duas barra
e eu fui assitir a farra
do lote de vagabundo
mas quando eu vi afroxei
e acredite que achei
a coisa mió do mundo.

Eu caboco lazarino
com doi metro de artura
os bracos dessa grossura
medo p´ra mim é sulipa
de jogar tive o parpite
e aceitei logo o convite
prumode jogar de quipa.

Me dero um calção listrado
e um pá de jueieira
também um pá de chuteira,
uma camisa de gola
e eu gritei arra diabo
eu já peguei touro brabo
e segurei pelo rabo
porque não pego uma bola?

Sei que o jogo começou
o juiz bom e honesto
p´ra começar era Ernesto
o nome do apitadô
que metido a justiceiro
prumode o jogo pará
bastava a gente chutar
a cara de um companheiro.

Bola vai e bola vem
um tá de Zé Paraíba
inventou de dá uns driba
no fí de Chica Brejeira
esse deu uma rasteira
que o pobre do matuto
passou uns cinco minuto
enrolando na poeira.

O juiz mandou chutá
uma bola contra eu
pruque o meu fubeque deu
um coice no Honorato
aí o juiz errou
pois se o fubeque chutou
ele que pagasse o pato.

Mais afiná meu patrão
não gosto de confusão
mandei o cabra chutá
fiquei esperando o choque
tanta força a bola vinha
que vinha pequenininha
que nem bala de bodoque.

E quando eu fui pegá a bola
me atrapaei meu patrão
passou pru entre meus braço
bateu numa região
que foi batendo eu caindo
espulinhando no chão.

O povo bateu em riba
Me dero um chá de Jalapa
uns treis copos de garapa
mai um chá de Quixabeira
esperei uma melhora
joguei a chuteira fora
e sai batendo a poeira.

E desse dia p´ra cá
nem mode ganhar dinheiro
não jogo mais de goleiro
nem com chuva nem com só
nem aqui nem no deserto
nunca mais passo nem perto
de um campo de futibó.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns por essa publicação, a vi no Sr Brasil e procurei na net! muito bom esse texto que retrata intimamente o matuto brasileiro!
Valeo Zé valeu Boldrin!