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sábado, 24 de março de 2012

Eita mundo muito louco!

24/03/2012 07h00 - Atualizado em 24/03/2012 07h44

Aluna de universidade de RR diz ter sido vítima de intolerância religiosa 



Aula de direito foi suspensa por 
causa de seu traje e objetos.
Universidade Estadual de Roraima 
aguarda análise da assessoria jurídica.

Ana Carolina MorenoDo G1, em São PauloNa íntegra
Uma estudante de direito da Universidade Estadual 
de Roraima acabou na delegacia na tarde desta
sexta-feira (23), em Boa Vista, depois que uma 
das professoras do curso se recusou a dar aula 
para a turma do 10º semestre do curso por causa, 
segundo ela, de seus trajes e objetos pessoais. 
Raymunda Gomes Damasceno Bascom, de 44 anos, 
reclama ter sido vítima de discriminação religiosa. 
A universidade aguarda o relatório da professora
sobre o incidente e uma análise da assessoria 
jurídica para se pronunciar oficialmente.
A universitária diz que segue uma religião 
de matriz africana e, por isso, todas as sextas-feiras 
veste saia branca, blusa azul, colares e adornos 
na cabeça, e carrega consigo objetos como 
uma pequena bíblia, uma pequena boneca. 
Além disso, ela diz que sempre carrega livros, 
dicionários, frutas e uma caneca para evitar 
o desperdício de copos descartáveis.
Ray, como é conhecida entre os colegas, contou ao G1 
que tem aulas de direito administrativo com a mesma 
professora todas as quintas e sextas-feiras desde a 
segunda semana de fevereiro, mas que seu modo 
de vestir e seus objetos nunca foram motivo de conflito. 
Nesta sexta, sua turma teve aula de direito processual 
constitucional no primeiro período e, entre as 
10h e as 11h50, teria a aula de direito administrativo.
"Quando ela chegou, depois de dar bom dia,  
ela virou para mim e perguntou 'o que é isto?'. 
Eu não sei a que ela se referia, então respondi 
'este é o meu jeito de vestir na sexta-feira', 
e ela disse que era para eu tirar as coisas, 
inclusive da minha mesa, tudo o que não 
tivesse que ter com direito administrativo, 
senão ela não ia dar aula", disse a estudante.
Em um vídeo enviado à TV Roraima e filmado 
por uma aluna que estava presente na classe, 
a professora diz após ver os objetos sobre a mesa de Ray: 
"Isso não faz parte da aula. Você vai ficar só com o 
seu caderno e sua caneta". Após a reação dos alunos, 
a professora afirma: "Se vocês querem fazer qualquer 
tipo de manifestação utilizem os meios cabíveis. 
Eu sei que só tem uma pessoa aqui que está fazendo 
este tipo de coisa, mas como tenho que falar com 
a sala inteira. Eu não vou dar aula com este tipo 
de coisa aqui. Isto não faz parte da aula de direito 
administrativo. Vou dar dois minutos para você retirar. 
Se você não retirar eu não vou dar aula."
Segundo a estudante, os colegas da turma a 
impediram de retirar os objetos e, depois de uma discussão, 
a professora pegou seu material e deixou a sala de aula. 
Por causa do evento, Raymunda registrou um 
boletim de ocorrência de segregação no 
1º Distrito Policial de Boa Vista, assinou um 
termo de declarações na Promotoria de 
Educação do Ministério Público Federal e, 
na tarde de sexta-feira, buscou a Comissão 
de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados 
do Brasil (OAB) em Roraima.
Procurada pelo G1, Ênia Maria Ferst, 
diretora de graduação da Pró-Reitoria de Ensino 
da Universidade Estadual de Roraima, 
afirmou que a Uerr só vai se manifestar 
após receber o relatório oficial da professora 
sobre o ocorrido, e encaminhá-lo à 
assessoria jurídica da instituição, para que ela dê 
o encaminhamento de acordo com o código 
de ética da universidade.
Apoio dos colegas
Uma colega da turma, que preferiu não se identificar, 
afirmou que estava sentada no fundo da
sala e ouviu a professora dizendo que daria 
dois minutos para que Raymunda retirasse da 
carteira todos os objetos sem relação com a 
disciplina de direito administrativo. 
"Ela foi bem categórica, disse 'isso não tem 
nada a ver com a aula, eu lhe dou dois minutos 
para você retirar'", contou a colega.
Ainda de acordo com ela, Raymunda se levantou 
para obedecer a ordem da professora, 
mas a turma se manifestou em apoio a ela, 
afirmando que não havia, no regulamento 
da universidade, qualquer proibição desse 
tipo e que a posição da professora era inconstitucional. 
"Alguns alunos se exaltaram com a professora, 
e ela também, e então falou que não ficaria 
lá batendo boca com os alunos e saiu da sala", 
contou a aluna, que classificou a professora 
como "bem rígida" e afirmou que diversas 
situações de conflito entre ela e a turma já 
vinham acontecendo desde o início do semestre. 
"Por isso todo mundo ficou a favor da Ray."
Raymunda, que tem mãe indígena e pai negro, 
e descende da etnia Kraô, contou que 
leva frutas como banana consigo porque
gosta de se alimentar de maneira saudável, 
um hábito que guarda desde a época em que 
vivia em Goiás, onde nasceu. Ela se mudou para 
Roraima em 1991 e afirma participar da religião 
de matriz africana como participante.
Segundo ela, nesta sexta-feira, o único adorno 
diferente que ela usou, em relação às outras 
sextas-feiras, foi trocar um prendedor de cabelo 
com pena por um lenço branco, amarrado 
na cabeça em forma de turbante.
A colega afirmou que Raymunda sempre 
chamou a atenção pelo modo "alternativo" 
de se vestir, mas que tanto os estudantes quanto 
os professores já estavam acostumados com o seu jeito. 
"Ela é uma pessoa que se veste de forma alternativa, 
tem comportamento diferente, incomum dos demais, 
mas é o jeito dela mesmo, saias longas, bastante 
colar, não é surpresa. Às vezes ia com mais apretrechos, 
outros dias com menos, mas a professora
nunca tinha falado nada", contou.
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