Dia do Nordestino - 08 de Novembro

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Comprando consciência - José Acaci

COMPRANDO CONCIÊNÇA
José Acaci

Um político tarimbado,
raposa véia de ação,
ganhador de eleição,
um enganador safado,
desses que fala incangado...
entrou no bar da pracinha
de numa cidadezinha
e gritou:-quem quer cachaça?
quem quiser bebe de graça,
hoje a conta vai ser minha!

Passou a tarde todinha
pagando cana e falando
e 'os bebo' se embriagando
e bebendo tudo que vinha.
e ele dizendo que tinha
dinheiro pra se manter
influencia nos puder,
e outras qualidades dele,
e que quem votasse nele
não ia se arrepender.

Prometeu pra Zé Jumento
Um milheiro de tijolo,
E pra Manezin do Bolo
Quatro saca de cimento.
Prometeu comprar um cento
De ripa pra Zé Migué,
Um sacolão pra Mané,
Remédio pra Zé de Bana,
E tome promessa e cana,
Risada, fuzaca e mé.

No “mei” da farra e da loa
Um menino entrou no bar
Começou a espiar
E viu aquela pessoa
Que tomou uma das boa
E tava estendido no chão
Perto do pé do balcão.
Esse bebo esparramado
Era o pai desse coitado
Que ninguém deu atenção.

Nem viram o menino entrar,
E quando ele foi entrando
Ficou num canto esperando
Pra ver o pai acordar
E ele ficou a escutar
As conversa do doutor
Que naquele seu furor
Nem via as águas caindo
Dos zói daquele menino
Que chorava de amor.

Nesse instante, do outro lado
Ouviu-se de lá da esquina
Um apito da buzina
De um motão avermeiado.
Um amigo do deputado
Passando pela tangencia
Pra marcar sua presença
Gritou sem descer da moto:
-Tu ta aí comprando voto,
Ou pagando pinitencia

Foi um momento bonito
Quando o povo calou-se
E o menino levantou-se
E respondeu com um grito
Mas forte do que o apito.
Do fundo da inocência.
Delatou a intransigência
Quando olhou pro pai no chão
E disse de supetão!
TA COMPRANDO CONSCIÊNÇA.

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