ORGULHO DE SER NORDESTINO O nordeste hoje implora as águas da cachoeira a chuva corre por fora nem passa pela porteira. por causa dessa demora nordestino quando chora as lágrimas são de poeira. E quando a chuva aparece o ano começa bem tem gente que reza prece tem outras que diz amém a Deus o sertão agradece e eu agradeço também. Guibson Medeiros
Dia do Nordestino - 08 de Novembro
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
O Guarda abilolado - Chico Pedroza com Lirinha
Doutor, eu tenho razão,
De ser meio abilolado,
Venho dum tempo marcado
Por seca e revolução.
Quando eu tinha ano e meio,
Escapei de um tiroteio,
De meu pai com a bolandeira.
Se meu pai ganhou, eu não sei
E também nunca perguntei,
Nem, sequer, por brincadeira.
Vim conhecer a cidade,
Quando votei pra prefeito
Que por sinal, foi eleito,
E, para minha felicidade,
Me deu um emprego de guarda,
Me entregou uma farda,
Um capote, um coturno,
Um cacete envernizado,
Um apito enferrujado,
Eu fui ser guarda noturno.
Passeava as noites inteiras,
Apitando na cidade,
Escola, igreja, cinema,
Mercado e maternidade.
Nas noites frias do inverno,
Eu usava um velho terno,
Umas meias de crochê,
Bebia quatro cachaças,
Dava três voltas na praça
E corria pru cabaré.
Lá existia de tudo:
Discursão, briga, lorota,
Uns contava aventura,
Outro pagava uma meiota;
Quando um bêbado se zangava,
Eu ia lá e ajeitava.
O bêbado ficava manso,
Pagava pra mim uma bebida
Eu dava um apito e saía,
Na velha ginga de ganso.
Até que um dia o prefeito,
Fez uma reunião
E nela perguntou aos guardas:
-Querem aumento ou promoção?
Antes de fechar a boca,
Eu gritei com voz rouca:
-Quero promoção seu Zé!
Disse ele tá garantido,
Aprovado e promovido,
No maior posto que houver.
Me deu uma farda nova,
Florada,que nem chita enfeitada,
De galão, estrela, medalha e fita,
Broche, botão e alfinete;
Trocou meu velho cacete
Por um novo profissional,
E me disse: de hoje em diante,
Você é comandante,
De Guarda Municipal.
Pois três meses depois,
Veio a guerra mundial
E, nesse tempo, uma irmã minha
Tava morando em Natal.
Eu resolvi visitá-la;
Botei a farda na mala,
Passei o cargo a Raimundo
Que era quase um irmão.
Peguei o trem na estação,
E me intupigaitei pelo mundo.
Eita lugar longe da gota.
Quase o trem não chegava mais;
Tinha hora que pensava
Que ele tava andando pra trás.
Entre solavancos e berros,
O velho embuá de ferro,
Viajou a noite inteira,
E de manhã cedo, chegou
Deu um apito e parou
Na estação da Ribeira.
Desembarquei e fiquei
Perdido na multidão.
Quando eu puxava conversa
Ninguém me dava atenção.
Quando mais bom dia eu dava,
Mais o povo se abusava,
Talvez me achando chato.
Era um povo diferente,
Da qualidade da gente,
Das cidadinhas do mato.
Perguntei a mais de mil,
Se eles davam notícia
De Carmelita de Sousa,
Uma cabocla mestiça,
Mulher do guarda Pompeu,
Mais morena do que eu
E de cabelo meio ruim,
Que morava na Ari Parreira,
Que fica perto da feira
No bairro do Alecrim.
Depois de tanta pergunta,
Depois de ouvir tanto não,
Me apareceu carmelita,
No pátio da Estação,
Toda cheia de finesses,
Puxando nos Rs e Ss
Que nem mulher de doutor,
Nem parecia a matuta,
Que lavrou a terra bruta,
No Sertão do interior.
Mesmo assim me recebeu,
Na sua casa mudesta,
Os primeiros cinco dias,
Para nós foram de festa.
Quando o sexto dia veio,
Resolvi dar um passeio.
Mandei engomar a farda,
Me banhei, tirei o grude,
Me preparei como pude,
Para ter um dia de glória.
Passei o resto da tarde,
Sentado num tamborete,
Pregando estrelas, galões,
Broche, alfinete, botões,
Comprei mais uns acessórios,
Enfeitei o suspensório,
Feito de sola curtida.
De manhã cedo me vesti,
Tomei café e sai,
Dando risada da vida.
Na praça Gentil Ferreira,
Aonde tinha um mercado,
Eu parei para tomar fôlego,
Quando passava um soldado
E fez continência para mim.
Eu fiquei pensando assim:
Que danado ele viu neu,
Na certa ta me confundindo,
Ou me achando parecido,
Com algum colega seu.
E haja passar soldado,
Fazendo assim com a mão.
Daqui a pouco era sargento,
Coronel, capitão, cabo,
Tenente, major
E todo o estado maior,
Dos quartéis da redondeza
Cumprimentavam-me ali
Até hoje nunca vi
Tamanha delicadeza.
Desfilaram tanques de guerra,
Aviões em vôo rasantes,
Sirenes tocaram mais fortes,
Canhões dispararam distantes.
Um praça do Coronel,
Puxou do bolso um papel,
Onde tinha um letreiro
Que dizia: - Em nossa terra
Tem um espião de guerra,
Que chegou do estrangeiro.
Não quis falar com ninguém,
Não pergunta e nem responde,
Ninguém sabe de onde vem,
Ninguém sabe onde se esconde.
A sua farda é de cor de ameixa,
A impressão que nos deixa,
É que é um grande guerreiro,
Filho de outra nação,
Ou um perigoso espião,
Das guerras do estrangeiro.
Vamos levá-lo ao quartel,
Para uma averiguação,
Pois precisamos saber,
De onde veio esse espião.
Em seguida me levaram
Ao quartel e me entregaram
Ao Comandante Geral
Que, quando me viu fardado,
Perguntou meio assustado:
- Que tás fazendo em Natal?
Donde diabo é essa farda?
Faça o favor de informar,
E como se chama a nação
Que usa uniforme diferente?
E quem lhe deu tanta patente?
A troco não sei de que.
E porque Vossa Excelência
Não responde as continências,
Afinal, quem é você?
-Coronel, eu sou Zé Carrapeta,
Sou filho do Cariri.
Não sei fazer continência,
Pra gente que nunca vi.
Porém, nunca fui intruso
E, acredite, eu só uso
Esse quepe de biriba,
Essa farda e esse coturno,
Porque sou Guarda Noturno,
Em Sapé, na Paraíba.
CHICO PEDROZA
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2 comentários:
essa é a poesia para o sarácital 2010 do HC. muito bom vc ter colocado ai no eu blog.BJs Fika com Deus. Ass Emanoel Areily
eita poesia linda
e que blog organizado
professora eu reconheço
seu trabalho dedicado
e dou os meus parabéns
na forma desse recado
o mundo contado em versos
"o meu blog" solicita
que se tiver um tempinho
nos faça uma visita
e que tal uma parceria
se assim você permita
http://willpoeta.blogspot.com/
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