Dia do Nordestino - 08 de Novembro

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Retirado na Integra do Site CB Cordel do Brasil-

Noções de métrica e rima

Por Izaías Gomes de Assis


O que é literatura de cordel?
É uma narrativa poética popular escrita com métrica e com rimas soantes (perfeitas ou quase perfeitas).
O que é um verso?
É cada uma das linhas constitutivas de um poema. (o mesmo que pé).
Versos brancos: versos não rimados; versos soltos.
Verso de seis pés: sextilhas
Verso de pé quebrado: Verso errado ou malfeito
O que é estrofe?
É um grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo, o mesmo que estância. Existem vários tipos de estrofes, no cordel as mais usadas são: quadra (que caiu em desuso), sextilha, setilha e décima. Veja os exemplos abaixo:
Quadra (estrofes de quatro versos de sete sílabas)
O sabonete cheiroso,
Bonitinho e perfumado;
Ele ouviu alguns rumores
Que o deixou encabulado. (A briga do sabão com o sabonete, Izaías Gomes de Assis)
Sextilhas (estrofes de seis versos de sete sílabas)
A sujeira aqui em baixo
Já está fazendo mal
E o Homem achando pouco
Lá no Espaço Sideral
Contamina nossa órbita
Com o lixo espacial. (A Terra pede socorro, Izaías Gomes de Assis)
Setilhas (estrofes de sete versos de sete sílabas)
Bin Laden conectado
Com Nete ficou teclando
Passando noites no Messagen
Por ela se declarando.
Bom! Gosto não se discute,
Mas não é que pelo Orkut
Um romance foi rolando. (Férias que Bin Laden passou em Natal, Izaías Gomes de Assis)
Décimas
Se eu morrer neste lugar
Cessando aqui minha lida
Lá do outro lado da vida
Do Sertão hei de lembrar
E se Deus me castigar
Será branda a punição
Pois ele dirá então:
– Pior castigo foi ser
Um sertanejo e viver
Distante lá do Sertão. (Saudades do meu sertão, Izaías Gomes de Assis)
O que é métrica?
Arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos.
Sistema de versificação particular a um poeta: (Dicionário Aurélio)
Uma sílaba poética é diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais sílabas ou fonemas em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo:
Lá do_outro lado da vida
Observe que essa estrofe tem oito sílabas comuns, mas poeticamente só tem sete sílabas metrificadas.
1     2      3     4    5    6   7
Lá do ou  tro   la   do da vi da
A sílaba poética é pronunciada como ouvimos os versos, por isso a sonoridade é importante num verso metrificado (a essa contração dá-se o nome de crase ou elisão) e só se conta as sílabas até a sílaba tônica da última palavra.
Veja outro exemplo:
Em pleno século vinte,
O colossal transatlântico
Partindo lá da_Inglaterra
E_atravessando o Atlântico,
Chega à_América em cem horas.
Feito digno de ntico. (Manuel Azevedo, A tragédia do Nyengurg)
As sílabas em negrito são as sílabas tônicas das últimas palavras, onde termina a contagem das sílabas métricas, e as sílabas sublinhadas são as que se contraem formando uma única sílaba.
Observa-se que três vocais se contraindo no quinto verso e no sexto verso a consoante “g” forma uma sílaba.
Na literatura de cordel geralmente usa-se os versos de sete sílabas (redondilhas maiores) e os versos de dez sílabas (decassílabos). Outro ex.:
Vou narrar uma história
De_um pavão misterioso
Que levantou vôo da Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando_uma condessa
Filha de_um conde_orgulhoso. (* Romance do Pavão Misterioso.)
O que é rima?
Identidade de som na terminação de duas ou mais palavras. Palavra que rima com outra.
Rimas ricas
Rimas entre palavras de que só existem poucas, ou raríssimas, (chamadas também de rimas difíceis) com a mesma terminação, como novembro e dezembro; túmido e úmido, ou, segundo critério mais seguro, entre palavras de classes gramaticais distintas, como santo (adjetivo) e enquanto (conjunção), minha (pronome)e caminha(verbo).
Rimas pobres
Rimas entre palavras de que se encontra superabundância com a mesma terminação, (chamadas também de rimas fáceis) como agonia e sombria; caminhão e pão ou entre palavras antônimas, como fiel e infiel, simpático e antipático, ou, ainda, segundo critério preferível, entre vocábulos da mesma classe gramatical, como chorasse (verbo) e cantasse (verbo); meu (pronome) e seu (pronome).
Rimas toantes
Aquelas em que só há identidade de sons nas vogais, a começar das vogais tônicas até a última letra ou fonema, ou algumas vezes, só nas vogais tônicas, ex.: fuso e veludo; cálida e lágrima. (essa forma não é aceita na cantoria nem na literatura de cordel).
Rimas consoantes
As que se conformam inteiramente no som desde a vogal tônica até a última letra ou fonema. Ex.: fecundo e mundo; amigo e contigo; doce e fosse; pálido e válido; moita e afoita.  (essa é a forma adotada nas cantorias e na literatura de cordel por ser uma rima perfeita).
Palavras com grafia diferente, mas com fonemas (sons) iguais são consideradas rimas perfeitas, ex.: chorasse e face; princesa e riqueza; peça e pressa; seis e mês; faz e mais, PT e dendê.
Temos que ter maior cuidado com palavras estrangeiras, porém podem ser usadas, ex.: discute e orkut; batuque e notebook; bauex e você; Internet e chevete, gay e rei. (Existe uma linha de poetas contemporâneos que não utilizam a rima com grafia diferente).
Rimas aparentes (em hipótese alguma se usa no cordel)
São palavras que enganam pelas suas sonoridades parecem que rimam com outras, porém não rimam, ex.: Ceará e cantar; café e chofer; doutor e cantou; desistir e aqui; preferido e amigo; esperto e concreto, pensamento e centro; menina e clima; métrica e genérica; pensamento e tempo vazio e sumiu; cururu e azul.
Cuidado que tem palavras que praticamente não existem rimas para elas, ex.: pizza, tempo, cinza e lâmpada.
CUIDADO: Não se rima plural com singular.
Devido um fato histórico-linguístico não se rima palavras terminadas em “l” com terminadas em “u”, ex.: Brasil e viu; Natal e bacurau Gabriel e chapéu não rimam.
Boas rimas



De Mariane Bigio


“Bem no meio da Caantiga
E não falo do “fedô”!
Pois entendam que esse nome
(Seu menino, seu “dotô”)
é dado à vegetação
que cresce lá no Sertão
onde a história se “passô”
*
E foi em Serra Talhada
Num canto desse Sertão
Que nasceu um cangaceiro
O seu nome: Lampião
Para uns muito malvado
Para outros um irmão
*
Ele era muito brabo
Tinha muita atitude
Alguns dizem, hoje em dia
Que ele era o Robin Hood
Roubava do povo rico
Dava a quem só tinha um tico
De dinheiro e de saúde
*
Ou talvez fosse um pirata
Mas não navegava não
Ele tinha um olho só
Também era Capitão
Comandava o seu bando
Com muita satisfação
*
O cabra era tão raivoso
Que se um pedacinho entrava
De comida entre os dentes
E muito lhe incomodava
Ele pegava um facão
E fazia uma extração
Que nem o dente sobrava!
*
E esse homem tão temido
Também tinha sentimento!
Um dia se apaixonou
E pediu em casamento
A tal Maria Bonita
Que lhe deu consentimento
*
Ela também era braba
E andava no seu bando
Demonstrou que a mulher
Também tem força lutando
e seguiu o seu marido
mundo afora, caminhando
*
Entre uma batalha e outra
Lampião se divertia
Gostava duma sanfona
E dançava com Maria
Seu bando fazia festa
Até o raiar do dia
*
Ele dançava forró
Xaxado e também baião
Gostava era das cantigas
Das noites de São João
*
Numa noite de Luar
Bem cansado de fugir
Da polícia que jamais
Cansou de lhe perseguir
Lampião olhou pro céu
Cantou antes de dormir:
*
“Olha pro céu meu amor
Vê como ele está lindo
olha praquele balão multicor
que lá no céu vai sumindo.”***
*
E assim adormeceu
Junto da sua Maria
A polícia os encontrou
Logo cedo no outro dia
*
Foi cantando uma cantiga
Sobre o céu do seu rincão
Que se despediu da vida
O temido Lampião
Que faz parte da história
e hoje vive na memória
de quem é da região
*
E é cantando esta canção
que eu encerro a poesia
de uma história que falou
de tristeza e alegria
vamos continuar no xote
me despeço com o mote:
Adeus, até outro dia!”

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