Dia do Nordestino - 08 de Novembro

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Com o Mote: Minha alma matuta foi gerada nas entranhas do ventre do Sertão


Cantoria
Mote: 
Minha alma matuta foi gerada 
nas entranhas do ventre do sertão
Defendida por
Valdir Telles e João Paraibano

Foto ilustrativa - Viagem a bela Lagoa Nova RN
Onde se fica mais perto de Deus
Na Serra - Meu amado João

Me criei numa casa pequenina
Rodeadas de cercas e currais
Acordava escutando os sabiás
Festejando a aurora na campina
Com o leite do Peito de Turina
Minha mãe completava a refeição
Ajudava meu pai na plantação
E se orgulhava do cabo da enxada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Sou matuto cresci na agricultura
Me banhando com água da goteira
Vendo pai cortar unha de peixeira
Minha mãe no caco torrando Tanajura
Meu café foi com cinza e rapadura
O arroz foi de fundo de pilão
Meu viagra foi graxa de pirão
Leite quente, cuscuz e carne assada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Vi meu pai perder roça em ano fraco
Fazer conta sem ter com que pagar
Muitas noites saia pra caçar
Não achava nem peba no buraco
Se trouxesse um sibito no bisaco
Mãe assava nas brasas do fogão
Dividia comigo e meu irmão
E dava Graças a Deus pela caçada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Salguei tripa de porco na tarimba
Cacei peba com facho e candeeiro
Fiz casino na areia do terreiro
Pra brincar de bozó, castanha e ximbra
Tirei lama do fundo da cacimba
Botei água de pote no galão
Puxei dente no laço do cordão
Tirei mosca de dentro da coalhada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

No final de Dezembro pra Janeiro
Quando tinha sinais de inverno bom
O motor do trovão subia o som
Que tremia o painel do nevoeiro
A orquestra dos sapos no barreiro
Aumentava o volume da canção
Deus ligava o piano do carão
E a cigarra ficava aposentada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Fiz castelo de areia no caminho
Derramando ilusão pela poeira
Todo sábado bem cedo ia pra feira
Pra trocar ou comprar um passarinho
Toda vez que encontrava o meu padrinho
Dava a bença estirando a minha mão
Se ganhasse dez toes comprava um pão
Pra comer com um tijolo de cocada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Na casinha de taipa onde eu morava
Não faltava um peão de goiabeira
Arapuca, bodoque, Baladeira
E o carrinho de lata que eu brincava
As bolinhas de gude que eu jogava
Nos buracos da sombra do oitão
Um cavalo de pau riscando o chão
E uma bola de meia desbotada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Descasquei imbu verde pra comer
Fiz acero de broca e de coivara
Desci cerca de arame, rambo e vara
Roubei santo na seca pra chover
Com 10 anos de idade por não ter
Um bigode pintava com carvão
Pra dançar as quadrilhas de São João
Era mãe que escolhia a namorada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Eu não tive direito a mordomia
Mas, criei-me no meio da fartura
Alfenim, mel de engenho e rapadura
Lá em casa sobrava todo dia
No período Junino a gente ia
Assistir a subida do balão
Acender a fogueira de São João
E ver forró  pé de serra na latada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão

Lacrei tampa de cilo de legume
Botei pote com água na forquilha
Perguntava a papai se tinha pilha
Na lanterna de cada vaga-lume
A zuada que eu tinha de costume
De ouvir era o ronco do trovão
Se ouvisse zuada de avião
Eu corria com medo da zuada
Minha alma matuta foi gerada 
Nas entranhas do ventre do Sertão








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