Recomeço lírico e universal
Publicação: 17 de Setembro de 2011 às 00:00
Recomeçar é sempre um desafio. Nunca se sabe ao certo o que aguardar na próxima esquina, e o futuro se transforma em um livro com páginas em branco à espera de novas escritas. Mesmo diante de todas as incertezas, principalmente quando um artista está com a carreira estabelecida, não há nada mais instigante que experimentar novas possibilidades. E é nesse campo certezas incertas onde o pernambucano José Paes de Lira está jogando. Lirinha, para os íntimos que o conheceram quando ainda estava à frente de sua antiga banda Cordel do Fogo Encantado, resolveu alçar novos vôos em carreira solo e, para começar, disponibilizou gratuitamente na internet (www.josepaesdelira.net) seu disco "Lira".
andré vieira
Lirinha disponibiliza novo disco na internet e confirma lançamento nacional em Natal . "Lira" traz sonoridade moderna onde a poesia mergulha em timbres eletrônicos
Lirinha disponibiliza novo disco na internet e confirma lançamento nacional em Natal . "Lira" traz sonoridade moderna onde a poesia mergulha em timbres eletrônicos
Com um perfil artístico que transita entre música, teatro e poesia, Lirinha não é mais o mesmo: deixa para trás os batuques, evidencia harmonias e melodias, e transfigura o regionalismo ainda presente em um som mais universal, globalizado, moderno. "Lira" será apresentado em primeira mão na capital potiguar, no próximo dia 1º de outubro, quando o artista encerra a primeira noite de eliminatórias do Festival MPBeco 2011 na Cidade Alta. O show, assim como toda a programação do evento, é gratuito.
Ousado, experimental e também pop, o novo trabalho de Lirinha deverá surpreender desavisados interessados em formar uma ciranda na beira do palco - agora a banda é formada por guitarras, bateria, teclados, percussão e sintetizador, e a textura sonora recebeu tratamento de Pupillo (Nação Zumbi), que assina a produção musical. O disco ainda traz participação dos guitarristas Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Neilton de Carvalho (Devotos), Otto e Ângela Ro Ro.
Para falar sobre este novo álbum e sua carreira solo, Lirinha concedeu a seguinte entrevista por telefone direto de São Paulo à TRIBUNA DO NORTE:
Lirinha, você lançou o CD pela internet no último domingo (11) e, pelo que está escrito no seu blog pessoal, Natal recebe o lançamento mundial do disco...
[risos] Exatamente, botei mundial não foi?! Mas é amostrado mesmo esse cara! É uma brincadeira, pois estive no México, em um evento literário, e é Natal que vai receber este novo trabalho na íntegra em primeira mão. Fico muito feliz, pois tenho uma relação forte com a cidade, com o RN, que vem de antes do Cordel. Ouvia repentistas e cantadores daí como Severino Ferreira de Touros, Zé Luiz, um pessoal que recito desde criança. Chico Antônio. Passei por tudo isso e tudo isso passou por mim também.
O show em Natal vem completo? Cenário, banda?
Cenário será com luz, mas o que vou levar para Natal é o que vai circular em turnê. A banda nunca existiu, então será, realmente, a primeira vez. Vai ser um momento bem diferente pra todo mundo.
E a data do lançamento, 11 de setembro, teve alguma coisa a ver com um lançamento bombástico?
[risos] Não, não. É o dia quando se comemora a emancipação de Arcoverde (PE). Quis, de alguma forma, fazer parte disso - criar esse vínculo com a cidade de onde venho.
"Lira" é um lançamento independente e marca sua estreia como artista solo. Qual sua intenção em disponibilizar o disco gratuitamente na internet?
Faz parte de uma estratégia específica para esse momento que estou passando na carreira. Como vivi um recomeço, e uma reinvenção de som, a maior importância agora é a circulação dessas músicas. É muito importante que cheguem antes dos shows. Como o show tem uma relação com o mercado, era possível que se criasse uma expectativa com relação à música que eu fazia com o Cordel, então eu quis apresentar qual o caminho que eu tomei. O show em Natal tem muito a ver com essa decisão de disponibilizar na internet agora, antes do disco físico.
Sente que sua música soa mais mundial neste novo trabalho?
Quando tomei a difícil decisão de sair do Cordel, que não teve nada a ver com briga nem aquele velho desgaste conhecido dos grupo, foi por uma opção estética, uma decisão para ir a um ambiente desconhecido, de novidade. Não fazia sentido eu sair da banda e continuar com a mesma sonoridade. No momento em que eu me dou essa liberdade de recomeço, tenho uma necessidade intensa de experimentação melódica e harmônica.
"Lira" flerta com a música eletrônica?
Não sei se exatamente eletrônico, está mais ligado a relação de timbres que lembram essa coisa eletrônica. Toda a linha de baixo foi gravada com teclado, piano elétrico e sintetizadores, um esquema que lembra o The Velvet Underground, é bem diferente do que o Cordel fazia. A chegada do Neilton e do Pupillo, que gravaram comigo todas as faixas, tem tudo a ver com esses novos timbres. Esse projeto está sendo uma novidade pra eles também. Me sinto muito presente, muito representado pelo disco. As melodias, que construí sozinho em casa, foram todas respeitadas pelos arranjos. Pela primeira vez percebo a aplicação de uma poesia pessoal que me mostra completamente.
O fato da mixagem e a masterização ter sido na França alterou de alguma forma no resultado final?
Antigamente fazer esse tipo de coisa fora do país girava em torno do glamour, ou mesmo pela curtição da viagem. Mas hoje conseguimos compartilhar arquivos pela rede, com alta qualidade, e, de fato, você pode fazer onde quiser. Fizemos tudo por skype, íamos ouvindo e discutindo, negociando timbres até encontrar o ponto. Então, com certeza, interfere sim na sonoridade final.
E a participação de Ângela Ro Ro, como foi incorporada?
Ela foi caçada, desejada. Há uns oito, seis anos atrás, em Teresina, quando o Cordel estava fazendo show na cidade, Ângela estava se apresentando e fui assistir. Não sei de que forma, mas deram o toque e ela acabou me dedicando uma música. Sou fã desde Arcoverde (PE), escuto muito, e quando tive a oportunidade do disco solo fui atrás. Inclusive, ela contou que quando estava se recuperando do problema de saúde (Ro Ro perdeu 60 quilos com reeducação alimentar, também parou de beber e fumar) passou o período ouvindo o disco "Transfiguração" (2006) do Cordel. Então essa participação na música "Vedete" não foi uma coincidência.
Suas letras são bem românticas. Você percebe que os jovens estão assumindo esse lado, sem receio de rótulos?
Sim, acredito nisso. Musicalmente estamos superando alguns debates que aconteceram na década de 1990. Naquela época, quando se incluía um instrumento eletrônico tinha toda uma simbologia. A guitarra na década de 1960; Ariano Suassuna questionando Chico Science... isso tudo passou, está superado, hoje temos outros problemas, outros questionamentos. Por isso, essa reaproximação com sons simbolicamente eram tido como bregas e tal. Essa abertura é muito positiva para a música, uma necessidade de oxigenação nos movimentos.
SERVIÇO
Novo disco "Lira". Ouça e baixe gratuitamente no endereço eletrônico www.josepaesdelira.net. Show em Natal dia 1º de outubro dentro da programação do Festival MPBeco, na Cidade Alta.
2 comentários:
Caríssima Mª da Paz! amei o seu blog e muito obrigada pelo comentário que você postou no blog de cordel. abraços!
Nelcima,
O verdadeiro nordestino é aquele que ama sua cultura. O cordel é nossa cultura e tudo que eu puder fazer para divulgá-lo, farei.
Grande abraço e volte sempre.
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