Dia do Nordestino - 08 de Novembro

sábado, 18 de julho de 2009

Gabinete - O Sertão é um poema..



O Sertão é um poema
Que a natureza escreveu

No sertão tudo se ensina
O pensamento domina
O homem se desatina
Pensando no grande amor
Ora dar frio, ora calor
E se estar infeliz?
Teu grande amor não te quiz?
Remando na piracema
O sertão é um poema
Que a natureza escreveu


No Sertão a fé aflora
Se pede com devoção
Padre Cícero, Frei Damião
Pra contar essa história
E um passado de glória
Tristeza tomava meu coração
Mas, parti em cima do caminhão
Quem tem coragem não teme
O Sertão é um poema
Que a natureza escreveu
(Maria da Paz)




“Cada povo representa seus heróis históricos ou lendários de determinada maneira variável segundo os tempos; essas representações são conceituais. Enfim, cada um de nós tem determinada noção dos indivíduos com os quais está em contato, do seu caráter, da sua fisionomia, dos traços distintos do seu temperamento físico e moral: essas noções são verdadeiros conceitos”.
(Émile Durkheim, As Formas Elementares de Vida Religiosa, 1912, p.511.).


Filho de camponeses, Pio Giannotti - seu nome de batismo - nasceu a 5 de novembro de 1898, no povoado de Bozzano, na Itália. Na infância já era visto contemplando o crucifixo que carregaria para o resto da vida. Além do altruísmo (certa vez caminhou 30 quilômetros porque dera o bilhete do trem que ia para Bozzano a um mendigo), o moleque impressionava pelo equilíbrio - frequentemente saía pelo vilarejo plantando bananeira. O sonho de ordenar-se sacerdote foi adiado, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Combateu pelo exército italiano e herdou das trincheiras geladas uma infecção na perna que lhe causava dores terríveis (erisipela). Voltou para o seminário e tornou-se padre em 1923.

Pertencente à Ordem dos Capuchinhos, em 1931 recebeu a tarefa de pregar do outro lado do Atlântico, no distante Estado de Pernambuco. Decorou meia dúzia de sermões em português e encarou o desafio. Acompanhado de outro frade, Fernando Rossi, organizou missões que percorreram quase todas as cidades do Nordeste. Costumava chegar à localidade escolhida às segundas-feiras no final da tarde. Às quatro da manhã de terça, ainda na escuridão, a multidão já se comprimia para ver a procissão de penitência.

Disputa pelas sobras - A primeira missa era celebrada às cinco. Uma hora mais tarde, o frade iniciava sua pregação. “No inferno o calor é bilhões de vezes pior que no Nordeste. As labaredas sobem e queimam sem parar o corpo dos adúlteros, das prostitutas, dos afeminados e dos criminosos”, dizia com a voz rouca, quase inaudível. A seguir tomava o café da manhã. As sobras eram disputadas a tapas pelas beatas. “Se ele deixasse um restinho no prato, todo mundo corria para comer”, contou a ISTOÉ Anita Meira, enfermeira que o acompanhou por 30 anos, a partir de 1962. “Não era fome, não. Era devoção. As beatas viviam atrás dele com uma tesourinha, tentando cortar um pedaço da batina”, completa. O dia continuava com outras missas, a reza do terço e as confissões, que duravam até a meia-noite (o horário era facilmente ultrapassado). Então dormia umas poucas horas - roncava como um leão - e no dia seguinte, às quatro da manhã, lá estava o velho capuchinho de novo, com a habitual campainha nas mãos, acordando o povo para ir à igreja. Numa rotina que se repetiu por mais de 60 anos, depois de sete dias Frei Damião se deslocava para outra cidade.

Jerimum com leite - Habituado a comer apenas o que lhe dessem, não escapou das brincadeiras de seu companheiro de pregação, Frei Fernando Rossi. Hospedados numa residência de Bom Jesus (PE), quando a dona da casa perguntou o que deveria servir, Rossi disse que Frei Damião adorava jerimum (abóbora) com leite. Sem reclamar, o capuchinho italiano comeu o mesmo prato durante os três dias seguintes, nas três refeições. Ao deixar o lugarejo, o companheiro debochou: “Como é, Frei Damião, gostou da comida?” Em tom de apelo, ele respondeu: “Nunca mais faça isso, Fernando!”

Contra a minissaia - Inimigo declarado do comunismo, do sexo antes do casamento e da minissaia, Frei Damião espalhou seus milagres por mais de 800 municípios. Nunca se queixou das dores, apenas das limitações que a idade lhe impunha. “Ele ficava chorando no quarto por não poder seguir nas missões”, lembra o Frei Rinaldo Pereira, do Convento São Félix, no Recife, onde o capuchinho morou nos últimos dez anos de vida. Para arrancar-lhe alguns sorrisos, diziam que sua única doença era uma “tercite” - o hábito constante de rezar o terço. Morreu a 31 de maio de 1997, de problemas pulmonares. Até os últimos dias, confessou todos os fiéis que o procuravam. Sem café melado, mas com a conversa cara a cara que o sertanejo nordestino entendia tão bem.
Ingênuo, deixava os políticos se aproximarem para tirar fotos ao lado dele, mais tarde usadas para estampar santinhos de campanha. Num palanque montado para suas pregações em Canafístula (Alagoas), os alicerces cederam com a superlotação de políticos. Frei Damião ficou em situação constrangedora: caiu no colo do prefeito. São e salvo, tratou de tranquilizar os fiéis: “Quebrei só o terço, quebrei só o terço!
Reportagem retirada da Revista Isto é




Frei Damião
Luíz Gonzaga

Frei Damião, onde andará frei Damião
Deu-lhe o destino, viver nordestino
É hoje o nosso irmão

Quando o galo canta na madrugada
Já toda gente de pé benze na procissão
numa marcha santa dentro da alvorada
Vai na frente o homem, o quase santo frei Damião
oh reza e canta, desperta canta
já chegou o tempo ninguém fica ateu vamos pras missões
pecador se ajoelha
em Deus quem se espelha
só pode ter de Frei Damião sua proteção

Frei Damião meu bom Frei Damião
O seu perdão numa confissão faz um bom cristão
Frei Damião meu bom Frei Damião
Eu sou nordestino, eu estou pedindo a sua benção

Pé que pisa a terra, sem caminhos erra
Este beco testa-nos e a gente está nas missões
Quer saber do inverno, quer fugir do inferno
Quem tem devoção com Frei Damião não tem provação

Frei Damião meu bom Frei Damião
O seu perdão numa confissão faz um bom cristão
Frei Damião meu bom Frei Damião
Eu sou nordestino, eu estou pedindo a sua benção(bis)

Frei Damião... Frei Damiããããoooo.

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