Dia do Nordestino - 08 de Novembro

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Perdido na matutagem Onildo barbosa.


Hoje é o Dia do Nordestino
Parabéns para nós.
Ei ! Qui diabé isso, quanto mais os cabra discriminam nordestino, mais eu tenho orgulho de ser nordestino.



Perdido na matutagem 
Onildo barbosa.

Quem perguntar quem sou eu, 
Eu nem sei lhe arresponder 
Eu sou um pobre matuto, 
Que nasceu só pro nascer 
Vivo num mundo sem crença 
Desafiando as sabença 
Dos dr. bem estudado,, 
Sou coroné sem patente 
Na estrela do sol quente, 
Meu pensamento é forjado.


Sou cabra desconfiado 
Feito preá de serrote 
Sou perdido, sou achado, 
De tudo eu sou um magote; 
Sou grito de lavandeira, 
Sou cururú de biqueira, 
Sou promode, sou que nem, 
Que nem tudo eu sou um pouco 
Sou sertanejo, cabôco 
Que nunca invejou ninguém.


Sou caldo de cana puro 
Na bica do moedor, 
Calango de pé de muro 
Se escondendo do calor, 
Sou rangido de porteira, 
Cigarra de catingueira, 
Assovio de caipora,, 
Vento que espanta o sofrer, 
Cuma quem vem pra dizer, 
Que a chuva ainda demora.


Sou uricurí maduro, 
No festejo dos meninos 
Sou moleque sem futuro 
Dos cafundós nordestinos 
Sou a correia da sela 
Que prende o nó da fivela 
Da cangáia do jumento,, 
Sou da tropa desgarrada 
Que bota o pé na estrada 
Pra fugir do sofrimento.


Sou cariri, sou bibocas 
Vale estreito, sou riacho, 
Sou corredor das tabocas 
Sou café feito no taxo, 
Sou abelha jandaíra 
Sou mocó de macambira 
Com medo de caçador,, 
Sou matuto, pé no chão, 
Mas nos dias de eleição 
Eu também sou eleitor. 
Sou eleitor com vontade! 
Chega dá nó na garganta 
Votando pela verdade 
E às vezes nem adianta 
Muitas vezes tem votado, 
Em prefeito deputado, 
Que se diz amigo meu,!! 
Cumprimenta-me, abraça, 
Depois que a política passa 
Nunca mais se lembra deu.


Eu sou o zé da enxada 
Da foice, do jereré, 
Talvez um zé quase nada 
Mas não deixo de ser zé 
Zé da lenha, do roçado, 
Zé pastorador de gado, 
Tangedor de burro manco, 
Zé do povo, zé ninguém 
Zé, que não tem um vintém 
Nem no bolso nem no banco.


Sou miolo de pereiro, 
Insistente e cabeçudo 
Que crer num deus verdadeiro 
Um deus a cima de tudo. 
Um deus de quem eu sou filho 
Deus da espiga do milho, 
Deus da fulô do feijão, 
Nesse sim eu acredito 
Sem pai nosso, sem bendito, 
Igreja ou religião.


Sou grito de patorí 
Flexa- peixe na lagoa 
Pescador de lambari 
No balançar da canoa 
Muito mais que tudo isso, 
Sou abelha de cortiço 
Com seu corpo pequenino, 
Nesse vai e vem medroso, 
Traçando o mel saboroso 
Na colméia do destino.


Eu sou casaca de couro 
Sou espora de metal 
Sou zumbido de besouro 
No pendão do milharal 
Eu sou o brilho da onda 
A lua cheia, redonda, 
Branquinha da cor de um véu, 
Emborcada sobre a mata 
Igual um prato de prata 
No guarda louças do céu 
Fim 
Agosto de 2006